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Atravessando a Isla del Sol: o Titicaca e suas belezuras

por Marina Ribeiro, 26 de julho de 2014
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Digo que Titicaca é um nome engraçado para o imponente lago boliviano que é nada mais, nada menos, do que o lago comercialmente navegável mais alto do mundo, sustentando-se a mais de 3800m acima do nível do mar. Yep, coisa muita, meus caros. A sensação, ao vê-lo, é a de estar olhando para o oceano, e aí é inevitável lembrar que ele é um lago. Um lago no qual é possível perder a terra de vista. Na verdade, na verdade, terra a vista é o que não falta (o Titicaca possui 41 ilhas espalhadas por seus quilômetros), mas é possível de um certo lado não ver o outro, sabe?

Então, eu também não sabia, mas depois de alguns perrengues dignos de um mochilão ao atravessar a fronteira Peru-Bolívia e, finalmente, chegar a Copacabana, pude testemunhar tamanha #ostentação. Copa (é, teve Copa na minha viagem, e não foi a carioca ou a futebolística) é ponto de chegada e partida dos barcos que levam gringos do mundo todo (sério, muito gringo, brasileiros included) e também os locais à Isla del Sol, ilha sagrada dos Incas que promete vistas impagáveis das águas do Titicaca, além de belíssimos nascer e pôr do sol.

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Depois de comprar o ticket de ida, eu e meus companheiros de viagem nos sentamos na laje (literalmente, ok?) de um restaurante para comer truta, beber cerveja quente (hábito local,u-h-u), esperar a hora da partida e tomar sol. É que na sombra tava frio pra dedéu, então preferimos tirar um ou dois casacos e aquecer nossos corpinhos naturalmente. De frente para aquele azul brilhante do lago e enquanto eu rogava internamente para que a comida estivesse limpinha (alô-ôu, Bolívia), acabei dormindo e até sonhando.

Às 13h30, horário de lá, pegamos a balsa. Apertada, abafada, cheia e lenta, demorou quase duas horas para chegar à parte sul da Isla del Sol, lado onde havíamos reservado o hostel Inka Pacha. Paguei 5 bolivianos pela entrada na ilha e, olhando em volta, fui começando a entender a magia do lugar: já queria uma espreguiçadeira, um drink e um biquíni pra curtir aquela “prainha” de águas tranquilas. Maaaas alegria de mochileiro dura pouco, né não, galera?

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Tínhamos que chegar ao tal do hostel e, olha, sorte e esperteza a nossa que deixamos as mochilas grandes num hotel em Copacabana e chegamos à ilha apenas com o essencial para a noite. Você me pergunta “por que?” e eu te digo: como se a altitude do lugar não fosse suficiente, tivemos de subir uma grande (e quando digo grande, estou sendo modesta) escadaria até nossa hospedagem. A drama queen em mim impede que eu diga menos do que “sofri, doeu o peito, quis desistir e, quando acabou, minha energia tinha ido pro beleléu”. Sem brincadeira, o esforço físico me abalou até psicologicamente, e cheguei ao meu quarto #chatiada, querendo só dormir.

Meus colegas de viagem estavam todos dispostos e foram passear enquanto eu tinha um relacionamento sério com o colchão e os travesseiros (me julguem). Daí acordei, me olhei no espelho e vi um tomate. Não era sonho, era efeito daquela cochilada lááá na laje, ainda em Copacabana, lembra? O frio é traiçoeiro e a altitude somada ao sol fizeram o resto do serviço. Pelo menos a janta foi boa e deu até pra dormir razoavelmente bem durante a noite.

Acordei às 6 da matina no dia seguinte (pois é, isso porque eu estava de férias), pra ver o sol nascer na Isla del Sol. Programa obrigatório, de fato um clássico irrecusável, mas haja coragem pra sair da cama naquele frio sacana e ir até a varandinha. Tudo bem, porque aquela bola laranja nascendo detrás de algumas montanhas e iluminando as águas do lago e as nuvens no céu compensou o esforço. Aliás, nessa viagem eu aprendi a venerar o sol e entendi porque, para os Incas, ele é sagrado.

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O café da manhã foi até bom e, depois dele, #partiuladonorte! Começamos a caminhada em direção ao outro lado da ilha cheios de casacos e com nossas mochilinhas nas costas. A felicidade foi perceber que o descanso do dia anterior tinha surtido efeito e eu já estava mais aclimatada, sofrendo consideravelmente menos com os esforços (obrigada, de nada).

Fomos margeando o “mar” que é o Titicaca e chegamos rápidex ao lado norte, onde pagamos 15 bolivianos pela entrada naquele pedaço da ilha. A trilha é bem demarcada, e optamos por seguir aquela que ia nos mostrando as praias. A ilha é pouco habitada — na verdade, eu vi muito mais gringos por lá! Quando passávamos por alguma comunidade, a coisa mudava um pouco de cenário. Na comunidade Yumani, onde dormimos, todas as mulheres que vi eram Cholas.

Seguimos por um caminho alto que era uma mistura de ladeira e escada que nos presenteava com vistas impagáveis das praias banhadas pelo lago. Era a “Ruta Sagrada de La Eternidad Del Sol” (Willka Thaki), que pegamos pelo lado das praias, atravessando rotas alternativas e outras comunidades. Pena que estava frio, porque as águas muitas vezes cristalinas e o sol forte só me faziam pensar em dar mil maravilhosos mergulhos!

No percurso, cruzamos com um cara que estava hospedado no hotel onde deixamos nossas mochilas, em Copacabana. É curioso como, nessas viagens, acabamos cruzando inúmeras vezes com as mesmas pessoas, mesmo variando de cidades e países. Um vira-lata que seguia o tal cara resolveu nos seguir, e foi nosso companheiro até chegarmos ao nosso destino final, do outro lado da ilha! O cão ia nos mostrando o caminho, e parava nas sombras para nos esperar e admirar a paisagem (juro!).

Cruzamos com muitos animais no caminho. Rebanhos de ovelhas com suas ovelhinhas bebês berrantes, porcos gordinhos e simpáticos que comiam na nossa mão, burros de carga que serviam às locais. A vegetação também nos chamou a atenção, e vimos repetidas plantações de um feijão verde e enorme típico de lá, que eu havia provado e aprovado na sopa do dia anterior. Aquele feijão gigante me encantou (sou ridícula, eu sei) e me fez pensar muito na história do João e o Pé de Feijão.

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Finalmente chegamos a Challapampa, onde encontramos uma sombrinha marota para descansar. Desse lado não havia escadarias e o lugar se assemelhava muito a uma praia, com casinhas na areia. A boa foi pedir um mate de coca — o mais forte de toda a viagem, entupido de folhas muito, muito verdinhas — e um sanduíche de palta (abacate) para quem não come carne. Estava uma delícia!

Foi, finalmente, o momento do dolce far niente tão merecido numa viagem. Só observar, se permitir não fazer nada, se aconchegar num cantinho de sombra que esteja quentinho de sol mesmo assim, pensar que “o mundo é bão, Sebastião” e fim.

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Fotos por Diego Serrão e Marina Ribeiro

Marina Ribeiro

Marina Ribeiro é jornalista e atriz em formação. Ama o teatro e acredita na comunicação em suas mais diversas manifestações – a moda é uma das favoritas. Soteropolitana, morou em São Paulo durante 4 anos e agora respira ares cariocas. No Instagram, ela é @marinaribei.

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