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A beleza suprema transarquitetônica

por Adolfo Caboclo, 19 de julho de 2014
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Todos procuram, de forma subjetiva, a beleza. O próprio Charles Chaplin disse que “a beleza é a única coisa preciosa na vida. É difícil a encontrar, mas quem consegue, descobre tudo”.

Concordo com o Carlitos. E, ao meu ver, a beleza pode ser absorvida de várias formas, vem de infinitas maneiras e através de todos os nossos sentidos. Porém, desde pequenino, aprendi a absorver as maiores belezas do meu mundo através da visão — não por acaso, meus principais hobbies são filmes e exposições. Minha qualidade de vida é sim baseada e mensurada pela quantidade de cinemas e galerias ao meu redor. Por isso “pirei” quando transformaram o prédio do Detran-SP no MAC (Museu de Arte Contemporânea) e senti uma alegria imensurável no momento em que o site americano Colossal, referência em cultura visual, deu destaque para a exposição Transarquitetônica, de Henrique Oliveira, que está exposta, justamente, no MAC paulistano.

Ontem (e anteontem) fui prestigiar tal obra. Henrique é um jovem da turma USPiana de artes visuais, viajado e reconhecido — adoraria entrevistá-lo um dia. Mas hoje não quero falar de “criador”, quero falar de “criatura”, da obra Transarquitetônica, que é, definitivamente, tudo que o Não Só o Gato busca, ou seja, é uma puta experiência curiosa.

Quando cheguei pela primeira vez no MAC, no meio de muitas exposições que estão rolando por lá, segui as placas que indicavam o caminho para a obra do Henrique. Então entrei em um corredor, uma trilha — ou uma viagem, que tentarei descrever por aqui, mas é certo de que não conseguirei transmitir nem um décimo do que a presença perante a obra transmite. Logo, tudo que eu escrever a partir de então, serão spoilers para quem ainda não foi e  pretende ir à exposição.

A Transarquitetônica é um “caminho gigante”, corredores sem janelas e baixos, que ocupam uma área enorme (um campo de futebol, talvez). O caminho começa com paredes completamente brancas — chapadas e que dão uma certa claustrofobia.

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O branco das paredes do corredor em que eu estava, a cada passo que dava, era cada vez mais substituído por tijolos cinzas — típicos de construções modernas –, mas então, alguns metros depois, esses tijolos se tornavam muros de tijolos mais antigos e simples e na continuidade do caminho eram substituídos por paredes de pau a pique. Não eram só as paredes que mudavam com o passar dos metros, mas o número de opções de caminhos também. Quando percebi, estava em um labirinto.

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Labirinto que não demorou para ter paredes de madeira, como as de um barraco, e então ser composto por inúmera lâminas de madeira entrelaçadas. O formato dos corredores se tornou arredondado, eu me senti como se cruzasse um formigueiro gigante de madeira. Uma sensação incrível, a cada pisar no chão dava pra escutar as tábuas rangendo, um sentimento de estar sendo engolido.

No final, depois de muito me perder no tal labirinto, encontrei uma saída. Quando saí, vi galhos e mais galhos. Descobri que estava dentro do tronco de uma árvore tombada.

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Foi um sentimento doidíssimo. Não só meu, mas dos meus quatro acompanhantes que estiveram comigo durante as minhas duas visitas também. Algo que fez todos passarem um bom tempo discutindo sobre a obra, com opiniões múltiplas sobre o assunto.

A conclusão, pouco importa. É subjetiva. Pra mim foi algo como uma evolução ao contrário, a entropia, algo que me fez sair do meu lar de concreto e voltar para o mato — como o bom bicho homem que sou –, mas não faltaram ideias de sustentabilidade e tudo mais.

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Outra coisa que me chamou a atenção foi a viabilidade do projeto. Não sei quanto custou, não tenho a menor ideia, mas creio, de verdade, que tenha sido mais barato preencher uma área enorme dessas com a genialidade dessa obra, do que trazer quadros de artistas consagrados. O que mostra um bom frescor da cabeça de quem coordena o MAC.

Hoje, a cidade de São Paulo está tendo exposições “da pesada”. Gratuitas ou bem baratas. Tem o Castelo Rá-Tim-Bum no MIS, Yayoi Kusama no Instituto Tomie Ohtake, Osgêmeos na galeria Fortes Vilaça. No Masp dá pra ver Monet, Rodin, Andy Wharol, Roy Lichtenstein, Von Gogh e muito mais. A exposição que vi no MAC, junto com todas as outras que comentei agora, sem dúvida alguma me encheram com a tal “beleza” que falamos no início desse texto, e também me fizeram discordar um pouco da frase que citei do Chaplin. Conclui que a minha versão seria da seguinte forma: “Não é difícil a encontrar (felicidade), e quem consegue, descobre tudo”.

Transarquitetonica_07

Foto de capa: site Colossal
Demais fotos: Adolfo Martins

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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