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Open house: os relacionamentos abertos

por Marina Ribeiro, 13 de setembro de 2013
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Resolvi pesquisar moldes não convencionais (ou curiosos, fazendo jus ao nosso NSG aqui) de relacionamentos amorosos e, desse mergulho no assunto, surgiram dois textos: o “Poliamor, por favor” e este que você lê agora e que versa sobre relacionamentos abertos. Nem sei até que ponto posso chamar o relacionamento aberto de “não convencional”, uma vez que uma quantidade considerável de depoimentos chegou à minha caixa de entrada. Resolvi dar foco ao ponto de vista dos casais que optaram pelo formato, mas é legal também levar em consideração outra perspectiva – a de quem se envolve “por fora” com tais casais.

Antes que você me pergunte: sim, poliamor e relacionamento aberto são diferentes! Enquanto o primeiro aceita mais de um amor, o segundo não libera o envolvimento afetivo profundo com terceiros. Na real, o relacionamento aberto me parece muito mais um artifício para apimentar a relação em alguns casos, diminuir a carência em outros ou ainda dar uma refrescada/aliviada nas questões da vida a dois. Como? Se envolvendo fisicamente com outras pessoas que não o parceiro principal. Digo fisicamente porque o sexo não é obrigatório (aliás, nunca é), mas esse envolvimento é carnal e não amoroso.

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“Em algum momento da vida me peguei pensando que essa exigência de exclusividade poderia ser a origem de todos os problemas num relacionamento amoroso”, explica Julia* (29). Foi esse questionamento e a proposta do namorado na época que fizeram com que aceitasse trazer outras pessoas ao sexo do casal. “A diferença é que enquanto eu tinha dúvidas, ele tinha certezas”, um dos motivos de a tentativa não funcionar e ter causado muito sofrimento à moça. Enquanto isso, para Mariana* (22), que namora há três anos e vive um relacionamento aberto há um, a possibilidade de voltar a ser monogâmica é pequena: “esse é o meu primeiro relacionamento aberto… Acho que, se um dia acabar, não conseguirei me adaptar a um relacionamento fechado novamente”.

A Júlia provavelmente descobriu que a exigência de exclusividade não é fonte única dos problemas de um relacionamento – toda relação tem suas crises, discordâncias e contratempos. Mas essas cada vez mais comuns experiências vêm pensar fora da caixinha sobre clichês e padrões amorosos, inclusive no próprio relacionamento aberto. “Acho que essas [relações abertas e poliamor] são iniciativas corajosas… Essa expressão da diversidade e o respeito vão marcar os relacionamentos do futuro”, palpita Julia. “Por isso, aplaudo quem adota o tipo de relacionamento que lhe faz feliz, independentemente das convenções”.

Bernardo* (33) me contou ter vivido 4 anos muito felizes, num relacionamento aberto com sua ex-namorada (e hoje amiga). O casal, ainda que bastante apaixonado, teve de lidar com as críticas dos amigos em dúvida quanto aos sentimentos genuínos dos dois. “Cansamos de ouvir que quando achássemos o amor verdadeiro fecharíamos o relacionamento” comenta, “esse molde nos uniu”. Bernardo me confidenciou que o tempo e a vivência possibilitaram a ambos, além de cumplicidade e lealdade, a compreensão e o respeito aos limites do outro.

Ah sim, todos os depoimentos que recebi eram bem claros quanto aos seus combinados. Ao contrário do que se pode pensar, sustentar essa parada exige diálogo honesto e nervos para estabelecer regras (mesmo que seja algo como “não tem regras”), afinal, “toda forma de relacionamento é um contrato”, nos lembra Bernardo. Claro, sem querer burocratizar algo que, como o nome já diz, busca um pouco mais de liberdade.

Falando nisso, caro leitor, não pense que vim aqui “cagar regra” em cima de relacionamentos ou da opção monogâmica, não mesmo! Vim fazer um convite à reflexão e à aceitação dessas “experiências curiosas” no amor. Tudo isso pode soar meio hippie – e não deixa de ser, afinal eles já eram os reis do amor livre quando eu nem era nascida – mas é a vida e suas arrebatadoras possibilidades acontecendo. Inclusive agora, com aquele casal amigo seu que você adora e nem imagina.

Fotos do filme “Aimez Qui Vous Voulez”, de Antony Cordier.

Marina Ribeiro

Marina Ribeiro é jornalista e atriz em formação. Ama o teatro e acredita na comunicação em suas mais diversas manifestações – a moda é uma das favoritas. Soteropolitana, morou em São Paulo durante 4 anos e agora respira ares cariocas. No Instagram, ela é @marinaribei.

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