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Vatapá vegetariano de Belém do Pará é o melhor PF do Brasil

Como um guloso se sentiu dentro da cozinha do concurso que elegeu o melhor PF do Brasil

por Adolfo Caboclo, 31 de outubro de 2014

Justamente por nunca ter sido “flor que se cheire”, sempre tive uma pequena queda pelos pecados capitais — e também aversão, a psicologia explica isso — e de todos os sete atos pecaminosos que existem, o meu predileto sempre foi a gula. Comer é bom, comer bem é foda e comer bem e com fome é um orgasmo. Imaginem então o que eu passei nessa semana, quando a querida instituição de ensino onde trabalho recebeu o concurso que elegeu o melhor PF do Brasil deste ano.

Só sei que nos últimos dias foi um tal de “Adolfo, compra os insumos”, “Adolfo, contrata não sei quem”, “Adolfo, coordena tal coisa” e por fim, “Adolfo, passa o dia inteiro dando uma força lá no evento”, e o que acabou acontecendo é que o guloso pecador que vos escreve teve que passar uma manhã dentro da cozinha onde os cinco finalistas do concurso, que foram selecionados entre milhares, cozinharam para a avaliação da chef “brasilidade” do momento, Ana Luiza Trajano.

Dois, dos cinco participantes, vieram da zona sul da cidade de São Paulo. O restaurante Santa Receita, da Vila Olímpia, e o PF Bistrô, do Itaim Bibi. O primeiro veio com um prato de rabada desfiada com cebola roxa, polenta crocante e arroz branquinho.

A rabada do Santa Receita sendo feita

Já o segundo veio com uma fraldinha preparada na cerveja preta acompanhada de um purê de mandioquinha e chutney de tomate.

 A fraldinha do PF Bistrô exalando um cheiro divino

E é nessas horas que o meu lado guloso aparece com tudo. Mesmo sendo vegetariano há quase dois anos, simplesmente fiquei maluco com o cheiro dessa fraldinha. Detalhe que eu tirei a foto acima por volta das 11 da manhã, e pra quem estava de pé desde às 6 da matina, o cheiro da cozinha estava com finos retoques de crueldade ao meu estômago.

O terceiro representante de Sampa veio de uma “outra cidade” chamada Vila Madalena. Veio com um tal de “feijão de cangaceiro com carne seca” e linguiça de Formiga (Formiga, uma cidadezinha mineira e não o inseto). O prato, do restaurante Canto Madalena, ficou muito bonito e cheiroso, seu chef era um dos que transmitiam mais confiança naquela cozinha, tanto que conquistou o terceiro lugar do concurso.

foto-6O terceiro colocado 

Dos cinco finalistas, os três paulistanos ficaram pra trás. O prêmio de segundo lugar foi para um restaurante do Maranhão, o Feijão de Corda. Um prato que foi feito de uma forma calma, sem stress. Uma torta de camarão maranhense que me pareceu ter uma massa leve, assim como o povo do Feijão de Corda, que assumiu no dia uma postura tão mais gostosa do que meus conterrâneos em geral.

foto 8A torta de camarão maranhense

A cozinha, de fato, estava com um clima tenso e isso parecia cair não apenas nas minhas costas, mas principalmente nas do pessoal do restaurante Govinda, de Belém do Pará. Este, que já tinha ganho no ano passado, fez um vatapá vegetariano com cuscuz e acarajé.  Claro que me simpatizei pelo prato por ser vegetariano, mas simpatizei mais ainda com a dona Ivaneide, a chef que junto com o marido abriu o restaurante e chegou lá naquela final com o peito e com a raça. Posteriormente dei um grande abraço nela. Vi uma pessoa sensível, hare krishna, não me admiro pelo fato de alguém tão doce ter sentido o peso daquela cozinha. Também não me admiro com o fato de uma pessoa tão sensível conseguir traduzir tanta coisa através de seu prato. Claro, como guloso e vegetariano que sou, comi uma generosa porção da iguaria que sobrou nas panelas. Depois ainda teve uma festa de premiação bem bacana, pessoas que nem pisaram na cozinha apareceram de peito estufado, veículos falaram sobre o resultado, mas cá pra nós… o show aconteceu mesmo às margens do fogão.

 

A chef Ivaneide com a mão na massa

A chef Ivaneide com a mão na massa

Vatapá neles!

Vatapá neles!

O grande campeão

O grande campeão

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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