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12 nomes da palhaçaria

Palhaças e palhaços profissionais contam como descobriram o nome de seus personagens

por Adolfo Caboclo, 23 de outubro de 2014
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Já faz sete meses que em um despretensioso papo de bar eu conheci meu grande amigo Maurício. Mau, como o chamo, falava de coisas sobre a vida e ao seu modo exaltava a beleza da natureza humana em cada comentário. Demonstrava uma maturidade muito grande relacionada aos despertares e renascimentos da existência de um homem. Nesse dia eu descobri que ele é aluno de um curso de palhaço.

Em pouco tempo comecei a assistir os cabarés de palhaços da escola de circo em que estuda e, algum tempo depois, também começar a fazer um curso de palhaço. Eu, que escolhi ter como rumo na vida a comunicação, a articulação e a tentativa de interpretar o mundo, me flagrei com a sina de tentar aprender a desconstrução de tudo isso, “munido” de um nariz vermelho no rosto e de um chapéu na cabeça.

Não demorou muito para esse palhaço que eu estava contruindo carecer de um nome. Um ser tão mais bonito que eu. Tão menos mesquinho. Armado apenas de flores, precisava ser batizado com um nome que interpretasse isso. Então nasceu o Tapioca — comida que minha avó, mulher que exala vida e alegria, tanto me fez acompanhada de seus cafés matinais. Hoje o Tapioca desabrocha na escola de palhaços, junto com o Maurício… ou melhor, com o Gibi.

Dois homens feitos começaram a se desconstruir para nascerem como palhaços. Resolvi pesquisar então para entender, pelo menos um pouco, como palhaços já maduros foram construídos. Abaixo segue a minha pesquisa sobre como 12 profissionais descobriram seus nomes de palhaço. Veja suas respostas através de suas próprias palavras.

1 – Val de Carvalho e sua palhaça Xaveco Fritza

 

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“Como palhaça lancei algumas personagens cômicas. A última, Xaveco Fritza, foi criada em 2004, quando entrei nos Doutores da Alegria, para ser uma médica maluquinha, mas ela não trabalha somente em hospitais. Aparece em picadeiros, teatros, cabarés, festivais e etc…. Eu sou espírita e coloquei o nome  da palhaça em homenagem ao meu exú mirim, cujo nome é Xaveco. Na verdade deve ter sido inspiração dele próprio, pois trata-se de um espírito infantil bem travesso e trabalhador, que busca a alegria das pessoas. O sobrenome Fritza foi trazido como uma sátira, por causa do Dr. Fritz, espírito que faz cirurgias espirituais. Assim nasceu a Xaveco Fritza que além de espetáculos, trabalha brincando de ser médica, ou seja, um xaveco clássico.”

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2 – Samantha Anciães e sua palhaça Iracema

 

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“Iracema. Iracema é uma homenagem..

É o nome de minha avó, que foi atriz e interrompeu a carreira pois o pai não aprovava. Ela foi a maior incentivadora da minha carreira, sempre!
E quando “tive” que batizar minha palhaça, meu ex-marido sugeriu,”porque não Iracema?”
E na hora tive a certeza! Esse é o nome da minha palhaça!

Uma histórinha: eu tinha uma vizinha que só me chamava de Iraceminha, pois dizia que eu era muito parecida com minha avó. Nada é à toa. :)

Esse nome me representa mesmo!”

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3 – Geni Viegas e sua palhaça Maffalda dos Reis

 

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“Como cheguei ao meu nome de palhaça Maffalda dos Reis: sou do grupo “As Marias da Graça” do Rio de Janeiro e trabalho como palhaça desde 1991.

O nome Mafalda surgiu com a trocas de cartas entre minha amiga Liane, que foi morar em Quebéc. Só sabia das notícias dela por carta (na época não tinha essas coisas de email, Face…). Então, falando do surgimento de minha palhaça, pedi sua sugestão na lista de nomes prováveis que enviei: Margot, Maristela,etc… Ela também preferiu o nome Mafalda.

Resolvido! Me batizei com esse nome, alterei um tempo depois com dois “effs” Maffalda (de fé e força), para diferenciar da palhaça xará de São Paulo.

O sobrenome “dos Reis” veio após oficina de Palhaça e de Máscara Neutra com a atriz/palhaça Claudia Câmara, onde pude descobrir outras características da Maffalda.”

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4 – Flora Matsumori e sua palhaça Cereja

 

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“Eu escolhi o nome da Cereja assim, às pressas, quando fazia meu primeiro curso de palhaço com o Kleber Brianez, do Grupo Esparrama. Estava chegando a época das apresentações e eu precisava ser batizada. Como o vermelho é uma das cores clássicas de palhaço, e a cereja (a fruta) parece justamente o nariz do palhaço, foi meio por aí, mas fui redescobrindo o nome depois de escolhê-lo. Meu lado oriental — japonês, no caso –, que foi aparecer no palhaço um bom tempo depois, por uma sugestão da Val de Carvalho (minha atual mestra), tem na cerejeira, e mais especificamente em sua flor, a sakura, um grande símbolo de sua cultura. E mais um motivo é tirado daquela expressão popular “a cereja do bolo”, que é a melhor parte, a mais importante, e é claro que tem tudo a ver com a Cereja, né? Hahaha!”

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5 – Karla Concá e sua palhaça Indiana da Silva

 

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“‘Indiana’,  porque amo o Indiana Jones e a profissão dele. Foi uma homenagem. E ‘da Silva’  para ‘abrasileirar’, uma homenagem aos tantos ‘Silvas’ brasileiros.”

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Foto de Getulio Ribeiro

 

6 – Elisa Neves e sua palhaça Mel

 

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“A descoberta do meu nome palhaça não tem grandes emoções, mas eu amo! Sempre fui muito chorona, mimada e enjoadinha quando era criança (filha única). Chorava por tudo no mundo e assim minha família me apelidou de ‘mel’. Quando iniciei meu processo de descoberta da palhaça, todas essas características vieram à tona, além de outras, claro. Um dia pensei: meu nome vai ser Mel. Só que até então eu nem lembrava que esse havia sido meu apelido um dia. Quando lembrei, dias depois, achei que tinha sido um sinal do destino (mesmo que seja só o fluxo do inconsciente, prefiro pensar em algo mais emocionante). É isso!”

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7 – Dario Diniz e o seu palhaço Sucinto

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“Sucinto é um nome que me veio em uma época em que eu me via como alguém calado, gostava mais de ouvir que falar. Hoje em dia o nome tem se transformado e hoje em dia ele significa ‘as coisas pequenas’. A criança, as pequenas diversões, os pequenos detalhes, as coisas singelas. Pelo menos é para lá que estou caminhando.”

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8 – Vera Ribeiro e a sua palhaça Shoyu

 

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“Minha palhaça se chama Shoyu e eu não lembro como surgiu esse nome. A lembrança é de um amigo que falou em Shoyume e ficou Shoyu.”

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9 – Amanda Couto e sua palhaça Josefina

 

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“Em um evento eu comprei com urgência um guarda-chuva de joaninha, e as crianças começaram a me chamar de ‘Joaninha’. Eu adotei esse nome por um tempo, por uns dois anos, mas eu não gostava desse nome. Aí um amigo sugeriu ‘Joaquina’, e eu usei uma vez esse nome quando uma palhaça amiga minha sugeriu ‘Josefina” e eu achei que tinha tudo a ver. Uma palavra com relação com o nordeste e eu sou descendente de nordestinos. E foi assim, de ‘Joaninha’ para ‘Josefina’ e ficou.”

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10 – Rodrigo Robleño e seu palhaço Viralata

 

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“Defini que seguiria os caminhos do palhaço em 1992. Num curso, levantaram duas características que tenho e que diferentes pessoas, que não se conheciam entre si, sempre ressaltavam: eu me mexo igual desenho animado e tenho cara de ‘cachorrinho pidão’. Por isso, e indicado no curso, adotei, por muitos anos, o nome ‘Dógui’. Esse nome, no entanto, não me agradava, principalmente pela insinuação do inglês. Depois do curso morei três anos fora e voltei pro Brasil, trabalhando na rua e com um aspecto bem mais brasileiro. De repente: “Viralata”! Pelo olhar, pela brasilidade, pela luta contra o ‘complexo de vira-lata’, porque a rua é meu habitat natural, porque sou magrelo, porque tenho a mesma braveza e medos de um vira-lata e porque, também, é um nome que funciona muito no meu ‘estado de graça’; o público gosta! Ah, e ‘Viralata’, no meu caso, se escreve junto!”

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11 – Esio Magalhães e seu palhaço Zabobrim Macambira Bira Bora Borges Junior de Alencar

 

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“Em 1995, por estar trabalhando em um projeto de plantio de árvores frutíferas e floríferas na cidade de Diadema e pelas bobagens que dizia, foi batizado o palhaço Abobrinha. Depois de virar Doutor [da Alegria] em 1998 e começar a trabalhar em hospitais, fui forçado a trocar de nome, pois como Dr. Abobrinha, era confundido com um personagem homônimo do Castelo Ra-Tim-Bum da TV Cultura. A confusão não agradava, pois além de ser muito mais famoso, o homônimo era careca! Buscando um novo nome, acabou ganhando um sobrenome de Doutor com matizes de brasilidade, porém ainda faltava o nome. Foi pensano um tiquin, com carin, bem direitin, que este paiaço mineiro voltano às origens, se lembrô das Abobrinhas de onde viera. Uai! Ele veio das (Z)Abobrin, sô!!! E assim nomeou-se Zabobrim, com “m” no final em homenagem ao seu tataratatarataratatavô Arlequim, artista mambembe da Commedia dell’Arte.”

Foco ãh!!!

 

12 – Hernani Albuquerque e o palhaço Ninho

 

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“O nome do meu palhaço surgiu de um amigo da família chamado Oneni. Como sempre fui pequeni’ninho’ ele falava ‘O Ninho’, de Hernaninho. Quando fui buscar o nome do meu palhaço me lembrei desse grande amigo e fiz uma homenagem para ele.”

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Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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