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Lucian Freud no MASP

por Fernanda Miranda, 19 de julho de 2013
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Fui ver ontem a mostra “Lucian Freud: Corpos e Rostos”, no MASP. Freud, neto do criador da psicanálise, foi um dos mais importantes pintores do século 20, ganhando reconhecimento ao retratar pessoas íntimas de seu cotidiano. Claro que, com exceções. Na mostra, por exemplo, há uma fotografia onde vemos Freud pintando a rainha da Inglaterra, Elizabeth II. Mas ele mesmo dizia que preferia os íntimos.

Essa fotografia é uma das 28 expostas no museu clicadas por David Dawson, assistente de Freud por mais de 20 anos. Nas fotos, é possível ver o ateliê de Freud e o exato momento em que ele retrata seus modelos. Além das fotografias, a mostra também traz seis pinturas e 44 gravuras do artista alemão, nascido em 1922 e naturalizado inglês em 1939.

As obras assinadas por Freud são frutos de uma meticulosidade descomunal. Ele estudava seus modelos em muitas sessões por meses a fio até chegar a obra final. Ao retratar David Hockney, este revelou que o pintor se aproximava de seu rosto, repetidas vezes, para constatar os mínimos detalhes de sua face. Era essa a idéia. Ele queria ver o modelo emburrado, entediado, triste, feliz, com todas as suas nuances, para depois pintar – porque isso sim era fazer um retrato.

Lucian Freud com David Hockney, 2002, de David Dawson

Lucian Freud com David Hockney, 2002, de David Dawson

Diante da tela “Jovem num Vestido Verde”, uma menina ao meu lado comentou com seu colega: “Que obras tristes…” Eu entendi o que ela quis dizer, mas se eu pudesse eu trocaria a frase por: “Que obras reais”. Reais no sentido de mostrar a pessoa realmente como ela é ou está. O retrato da pessoa humana – a pessoa humana que ri, que é feliz, mas que também se irrita, se entedia, fica de saco cheio, e que principalmente, tem suas expressões e suas marcas. O retrato além da pose. Alguns de seus modelos reclamavam do resultado da obra, no qual Freud respondia: “Pinto o que vejo, não o que você acha que devo ver”.

"Jovem num Vestido Verde", de 1954

“Jovem num Vestido Verde”, de 1954

Em “Jovem Nua com Ovo”, mais uma vez: o quadro, revelando a nudez de uma mulher deitada, não é nada idealizado, nada sensual, é simplesmente real., da perspectiva do que ele viu. Sua arte podia sim incomodar, como incomodou diversas vezes, mas é de uma sensibilidade brilhante.

"Jovem Nua com Ovo", de 1980

“Jovem Nua com Ovo”, de 1980

Essa é a primeira vez em que a obra do artista está sendo exposta no Brasil. Em 2011, ele deu adeus ao seu ateliê e à sua arte aos 88 anos. Mas ele ainda está vivo pela sua obra, muito vivo. E é só ir ao MASP que você vai entender.

De 28 de junho, terça-feira, a 13 de outubro de 2013, domingo, no primeiro andar do MASP.

Fernanda Miranda

Recém-formada em jornalismo e editora do Não Só o Gato. Ama história em quadrinhos, os textos da jornalista Eliane Brum, as trilhas sonoras dos filmes do Woody Allen e azeitonas.

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