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Marechal Food Park é a cara da nova Santa Cecília

A triste sina reaça perante o maior food park da América Latina.

por Adolfo Caboclo, 11 de agosto de 2015
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Como é triste ser reacionário.

Ser reacionário é se deparar com a tristeza diante da evolução natural da cidade. É ser regido por uma mente que caminha para a obsolescência. É não ver a beleza do novo, é sempre achar que o dinheiro gasto com X deveria ir pra Y.

É não ficar feliz ao saber que o próximo está em uma condição melhor. É achar que atendimentos médicos, redução da miséria e incentivo pra cultura são dados irrelevantes. É viver em um mundo em que a única variável é o cifrão.

Ser “reaça” é ir ao cinema só pra ver blockbuster, caso contrário escorreria uma lágrima cada vez que observasse que um cinema de rua reabriu. É não ver fios serem enterrados, muros grafitados, ônibus conectados – que passam como uma flecha entre os carros. É não bater pernas por Santa Cecília, a nova “hipsterland” paulistana.

Me lembro quando assisti ao ótimo documentário “Waldick, Sempre no Meu Coração” – de 2007, dirigido pela Patrícia Pillar -, em que o cantor aparece alcoolizado em um dos tradicionais bares da Lilian Gonçalves, na Rua Canuto do Val. De fato, esses bares eram o que tinha de mais famoso no bairro.

A região ainda contava com a tradição do Ugue’s, o que também tem seu charme. Mas é incrível pensar que, há pouco tempo, ainda não existia o Holy Burguer, nem o café Beluga, nem a Conceição Discos, nem o Roncador e nem o Armazém Alvares Tibiriçá.

Arte urbana e paisagismo não começavam a contagiar o Minhocão e ciclovias não passavam de um delírio. Mercado das pulgas? Só em sonho. Não era como no vídeo abaixo. Vejam bem: estamos falando de um “passado distante” chamado 2007.

Um novo ingrediente nesse caldeirão de mudanças do bairro é o Marechal Food Park. Chegou semana passada, com pompa de ser o “maior food park da América Latina”, em um terreno do lado da estação Marechal Deodoro. Um verdadeiro milagre não ter brotado um prédio nesse lugar.

O conheci na semana passada. Fui almoçar por aquelas bandas onde os carros não andam, as bicicletas desfilam em suas ciclovias e o Elevado Costa e Silva do jeito que conhecemos parece ter seus dias contados. Ainda bem que tudo isso fica na parede oposta ao metrô. Em plena terça-feira de tarde vi uma série de velhinhos almoçando por lá, cachorros e ciclistas curtindo o solzinho da hora do almoço.

Não faz muito tempo: foi em 2013 que a comida de rua se tornou algo legal na cidade de São Paulo, naquela época só existiam praças de alimentação em shoppings e galerias.

No último domingo, Dia dos Pais, retornei ao local acompanhado da minha cachorra. O food park estava com ainda mais vida. Por lá cochilei, comi hambúrguer e escutei o Majestoso pelo rádio. Sei lá… eu queria muito estar naquele lugar agora, enquanto escrevo este texto. O gosto da evolução é ainda mais delicioso do que as comidas dos food trucks.

E tem gente que é contra tudo isso. Cá pra nós: deve ser uma merda ser reacionário.

 

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Fotos Adolfo Martins

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Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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