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Boca Livre: Quando comida e boa forma não são antônimos

Um papo com Patrícia Julianelli, autora do livro Boca Livre.

por Estela Marcondes, 18 de dezembro de 2014
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As festas de final de ano já estão chegando e junto com elas, para muitas pessoas, um frio na barriga que entra em conflito com a água na boca, evidenciando as antíteses presentes em cima da mesa da ceia de Natal. O “projeto verão” parece lutar com aquele chocotone trufado; as horas de malhação para caber dentro da roupa nova que você pretende usar no Reveillón pesam na consciência ao admirar a ceia capaz de alimentar muito mais do que o dobro de pessoas que estão ali presentes.

Pois é. Entra ano, sai ano e tenho a impressão de que essas antíteses repetem-se. Reserve alguns minutos para refletir sobre as capas de revistas da banca de jornal da esquina e você terá uma bela ilustração do que pretendo dizer: em algumas, fotos de pratos lindíssimos e receitas tão incríveis quanto gordurosas. Em outras, fotos igualmente incríveis (pelo menos para os que, como eu, são adeptos às “naturebices”) de saladas e ceias com títulos “fit” e “light”. Escolha uma OU outra. Difícil encontrar onde estão os “E” por aí: “cozinhe pequenas porções daquele prato gordurosíssimo e grandes proporções daquele natureba, mas fique com ambos”. Mais difícil ainda encontrar textos que fujam do clichê de ano-após-ano e tratem o tema da alimentação (e não falo apenas desta época festiva em que o assunto entra em maior evidência, mas em todos os dias do ano) de forma leve, divertida e sem neuras.

Difícil, mas não impossível!

Exemplo disso é o livro Boca Livre que, lançado em novembro deste ano, reúne textos sobre “comida e boa forma com muito prazer e sem neura”. Escrito pela minha “ídola” Patrícia Julianelli, a quem tive o prazer de conhecer alguns anos atrás, quando comecei a correr e tornei-me leitora da revista Runner’s World Brasil (que até dezembro deste ano fazia parte das publicações da Editora Abril). Sou admiradora do “poder” da Patrícia em provocar a minha empatia como leitora e fazer aquele que lê sentir-se pertencente ao texto, protagonista de sua escrita. Isso tudo fez com que eu me tornasse sua fã. E foi assim, fazendo leitores degustarem suas palavras bem temperadas, que ela ganhou sua própria coluna, a “Boca Livre”, na revista e tornou-se, também, editora-chefe da mesma.

Tive a honra de poder conhecê-la pessoalmente, graças à amizade com a turma que participava do blog da Revista Runner’s. Após escrever meu primeiro texto para o Não Só o Gato, em 2013, eu (uma mera apaixonada pelo poder das palavras, sem um pingo de conhecimento jornalístico) pedi a opinião da Patrícia. Levei a sério quando ela disse para que eu não parasse de escrever. Hoje, quase um ano e meio depois, representando o NSG, “extraio” desta atleta, jornalista, publicitária, esposa e recentemente mãe (seu primeiro filho, Felipe, nasceu praticamente junto com o livro) um pouco de sua história.

Não Só o Gato: Desde quando você decidiu que cursaria jornalismo? Na decisão do futuro profissional, você chegou a cogitar cursar nutrição?

Patrícia: Na verdade, minha primeira faculdade foi de propaganda de marketing, por influência do meu pai, um dos homens mais criativos e íntegros com quem tive o prazer de conviver e aprender. Me formei na ESPM, trabalhei alguns anos na área (cheguei a ter uma posição bacana em uma empresa), mas logo percebi que minha paixão era gente e produto. Voltei pra faculdade, me formei em jornalismo e fui trabalhar em rádio, como estagiária, ganhando 300 “pilas” por mês… Depois trabalhei alguns anos na TV, aprendi demais, conheci muita gente diferente e fascinante, mas daí deu outro clique: quero viver da escrita! Como não conhecia ninguém no meio, escrevi três crônicas e disparei para o e-mail de vários diretores de redação da Abril (descobri o e-mail nas revistas mesmo). Um deles me respondeu e me chamou para conversar: Edson Aran, da Playboy. Comecei a “frilar” para ele, depois para a VIP e então fui contratada  como editora de saúde, nutrição e fitness da VIP. Aí comecei a estudar e a me interessar cada vez mais sobre nutrição. Isso oito anos atrás. E desde então, eu trabalho nessa área. Em 2008 ajudei a lançar a Runner’s no Brasil  e desde o início edito as pautas de nutrição (entre outras coisas). Aprendi horrores com as centenas de conversas e trocas de e-mail com nutricionistas, fisiologistas, endocrinologistas…

NSG: Como o assunto da “nutrição” entrou na sua vida? Foi você que aliou o jornalismo à corrida e nutrição ou isso foi sendo direcionado a partir das oportunidades nas revistas para as quais trabalha e outros acontecimentos da sua vida?

Patrícia: Não foi no jornalismo o início da minha relação com dieta balanceada: engordei muito na adolescência e depois de ver as fotos de uma viagem e como eu estava muito acima do peso, mudei o cardápio de casa, passei a ler sobre o assunto, passei a me exercitar regularmente. Mudei para sempre. Há 20 anos mantenho meu peso relativamente estável. Mas como a margem do Ibope, que permite dois quilos pra mais ou pra menos (risos). Cheguei a pensar em cursar nutrição, mas teria que sacrificar outros aspectos muito importantes da minha vida para fazer uma terceira faculdade e fui postergando esse sonho. Mas quem sabe um dia.

NSG: Como surgiu o “Boca Livre” na RW? A ideia do nome e da coluna nasceu de que forma?

Patrícia: Meus chefes (Sérgio Xavier e Maurício Barros) queriam uma colunista mulher para a Runner’s (já tínhamos 4 marmanjos) e achavam que ela poderia focar a coluna em nutrição, um tema que interessa e muito ao leitor da revista. Eles me chamaram pra conversar. “Patrícia, temos uma proposta para te fazer”. Senti um frio na barriga, mas topei na hora o desafio. O nome foi criação do Mauricio Barros, um presente que recebi dele e agradeço até hoje porque adoro!

NSG: Como surgiu a ideia de transformar seus textos na RW em livro? Este já era um sonho seu?

Patrícia: Nunca acalentei o sonho de lançar o livro. A ideia até passava pela minha cabeça, mas era sempre atropelada pela correria da rotina de cada dia. Acontece que eu comecei a receber e-mails e mensagens no Facebook de amigos e de gente que eu ainda não conhecia. Gente que se deu ao trabalho de apertar o botão de pause na vida para escrever pra mim. Que se identificou com o texto, se divertiu, se emocionou. E eu me emocionava a cada mensagem. Especialmente com as suas, Estela. E percebia que de alguma forma eu tocava aquelas leitores. E daí surgiu o sonho de um dia juntar as crônicas e lançar um livro. E eu fui atrás desse sonho!

NSG: Jornalista, esportista, esposa e agora mãe! Como tem sido para você conciliar a carreira e as paixões (como a corrida) com a maternidade? Quais são seus próximos sonhos a serem concretizados?  Você já planeja escrever outros livros?

Patrícia: Este ano entrou para minha história. Em janeiro decidimos marcar o casamento para abril de 2014. No mesmo mês, descobri que estava grávida do Felipe. Tive três meses para organizar o casório, lua de mel, tudo. Depois, tive mais alguns meses para decorar o quarto dele, comprar tudo que me diziam que era imprescindível. E cuidar do projeto do livro. Então, ele nasceu em setembro e no primeiro mês (o mais insano, pelo menos para mim) estava ao mesmo tempo revisando o livro, ajudando na divulgação. Eu não sei até agora de onde tirei forças. Felipe está com quase três meses e há três semanas retomei a rotina de exercícios. Parece que nunca fiz esporte na vida, faço um esforço danado em exercícios que antes eram banais. Mas é isso: retorno lento e gradual. Tem que ter paciência, né? Em fevereiro retorno da licença-maternidade e vou decidir o que fazer da vida. Tenho algumas possibilidades, mas vou avaliar com calma. Vamos ver como o “Boca livre” se sai pra pensar num segundo livro, né? ;) Estou na torcida para que as pessoas gostem!

NSG: Alguma curiosidade sobre você, sobre o livro, sobre sua carreira (algo engraçado ou surpreendente, algo que você não esperava, algo de muito bom ou muito difícil) que você queira dividir com o NSG?

Patrícia: Só gratidão. Por tudo que a vida tem me dado. Um marido companheiro, uma relação que ficou ainda mais forte depois do nascimento do Felipe, um filho lindo e saudável, uma família que me apoia e incentiva cada um dos meus passos, assim como meus amigos verdadeiros. Lamento por meu pai não estar aqui para dividir esses momentos comigo, consigo vislumbrar o sorriso dele no casamento, as lágrimas no parto do Felipe, o orgulho no lançamento do livro. Mas ele está comigo, no meu coração e nos ensinamentos que vou carregar para sempre, especialmente suas lições de integridade e respeito ao próximo.

BocaLivre3D

Estela Marcondes

Estela Marcondes é Terapeuta Ocupacional, acompanhante terapêutica e encantada pelas "linguagens" do mundo, além da verbal. Algumas vezes pensa que a palavra foi inventada por alguém que estava com preguiça de usar os outros sentidos para dizer como se sentia. Adora LIBRAS, dança, trabalhos manuais, música, observar demonstrações explícitas de carinho e elefantes!

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