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Ron Mueck no Rio de Janeiro

por Marina Ribeiro, 4 de abril de 2014
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Peculiar. Essa é a palavra que eu escolho para descrever a sensação que me acompanhou nos encontros com cada uma das esculturas presentes da exposição do Ron Mueck, em cartaz no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Essa é a primeira vez que o artista australiano residente da Grã Bretanha expõe seus trabalhos no Brasil, numa mostra que passou primeiro por França e Argentina.

Não foi fácil chegar nesse momento, o de visitar a expo. No primeiro final de semana em cartaz, interessados já enfrentaram filas quilométricas, e o museu teve de fechar a bilheteria, graças a uma lotação digna de grandes artistas. Para se ter uma ideia, fui à exposição durante a semana e cheguei ao local antes da abertura da bilheteria, o que não me privou de ter que esperar uns bons minutos atrás de outras pessoas.

Mas, espera, do que eu estava falando, mesmo? Ah, sim! Da peculiaridade que a experiência encerra. Para quem não sabe, Ron Mueck faz esculturas hiper-realistas, com um nível de perfeccionismo e atenção aos detalhes que nos faz perder o fôlego! Para apimentar a coisa, Mueck brinca com a alteração da escala de suas criações, o que nos coloca frente a frente com personagens quase tão reais quanto estranhos, em seus tamanhos muito menores ou muito maiores do que um humano comum.

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A exposição inclui três esculturas criadas especialmente para o evento, e observar as obras de Mueck é um pouco como olhar para uma foto. Contemplar aquele milésimo de segundo congelado, que guarda em si o peso de cada sentimento. Aliás, é impressionante como as estátuas carregam emoções. Suas expressões humanas comunicam dores, amores, confortos… A questão é que nada daquilo é real — o que pode soar óbvio, mas me peguei algumas vezes esperando um respirar.

Em “Still Life”, me coloquei atenta aos detalhes da pele da galinha, às suas dobras, garras, penas. Em “Young Couple”, vi os nós dos dedos, os diferentes tons de pele daquela menina e até o branco das unhas. A expressão de cansaço de “Woman with Shopping” me tocou. “Couple under an Umbrella” foi quase chocante de tão perfeita e enorme! De um jeito estranho e meio misterioso, eu queria abraçar aquelas “pessoas gigantes” com veias e pelos e peso. “Youth”, um menino negro mostrando uma ferida, me fez pensar na contemporaneidade da obra de Mueck.

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No documentário “Still Life: Ron Mueck at work”, produzido por Gautier Deblonde, pude entender melhor como o artista utiliza seus dedos para criar formas tão orgânicas quanto as suas. Em certos instantes, ele quase acaricia suas “crias”, de tão delicado que é o trabalho que executa. É engraçado, tive vontade de bater na “caixola” das esculturas e perguntar “Ei, tem alguém aí?”. Certamente, a situação mais curiosa do dia foi sair da exposição e ficar enxergando a arte de Mueck onde havia gente de carne e osso.

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Ron10 Ron11 Fotos por Marina Ribeiro

Marina Ribeiro

Marina Ribeiro é jornalista e atriz em formação. Ama o teatro e acredita na comunicação em suas mais diversas manifestações – a moda é uma das favoritas. Soteropolitana, morou em São Paulo durante 4 anos e agora respira ares cariocas. No Instagram, ela é @marinaribei.

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