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Água do bem-te-vi: cafés e drinks de 2015

Beluga Café, Por um Punhado de Dólares, Isso é Café e Frank Bar.

por Adolfo Caboclo, 1 de dezembro de 2015
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Pela janela da firma, já faz alguns anos, reparo os bem-te-vis. Meus companheiros de trabalho insistem em dizer que nessa janela a paisagem é cinza e que apenas em dias de céu azul vemos um pouco de cor. Mas é mentira – ou cegueira.

Os bem-te-vis da Vila Buarque, com seus peitorais de caneta marca texto, têm peculiaridades que arranham a retina. Esses animais não rasgam os céus como deveriam. Os bem-te-vis da Vila Buarque não assumem seus papéis de predadores de moscas, vespas e mariposas. Os passeriformes dessa região se mostram tímidos, surgem no terraço dos prédios antigos e voam apenas o necessário para aterrissar no parapeito do prédio seguinte.

O que me deixou intrigado durante esses anos de observação é que de um parapeito ao outro, esses pássaros fazem uma parábola para baixo: descem para depois levantarem seus voos e pararem na medida perfeita para pousar de forma magnífica, sem se esborracharem na parede.

Isso tudo é de um esplendor ímpar e muitas vezes me pego pensando que “quero ser um tímido bem-te-vi da Vila Buarque”. Mas então me lembro que existe a tal água que passarinho não bebe. E essa água nem precisa ser ardente, são referências que vão do café à cachaça. Como homem-pássaro paulistano que sou, meus rasantes costumam ser da Vila Buarque ao Paraíso. Por isso, gostaria de comentar sobre alguns lugares que costumo pousar durante esse itinerário.

Da cafeína ao álcool começo com o primeiro, e é difícil falar de café sem comentar sobre o Urbe Café – na Rua Antônio Carlos, 404. Local onde, inclusive, nasceu esse Coletivo.

Esse ano ganhamos três novas cafeterias que mudaram a minha rotina. Começando pelo xodó da Vila Buarque, o Beluga Café – Rua Doutor Cesário Mota Júnior, 379 -, que tem o metro quadrado mais “hipsterizado” da cidade. Rodeado por um comércio tradicional, como a poética loja de carimbos ao seu lado, o Beluga é um lugar pequeno, com um design clean, frequentado por pessoas que parecem ter acabado de chegar da Brick Lane londrina. Ao meu ver, seus diferenciais são o aeropress e bolos tradicionais, por lá se vende um bolo de milho e de laranja que merecem aplausos.

Beluga

Seguindo a mesma linha “hipsterizada”, só que na região da República – Rua Nestor Pestana, 115 – tem o Por Um Punhado de Dólares. Café que só pela referência do spaghetti western no nome, já vale o “pousar”. Impressiona muito o talento dos baristas da casa: uma galera que sabe extrair café, vaporizar um leite e mandar um latte art de olhos fechados. Nos fundos da loja eles ainda têm uma oficina de máquinas de café espresso. Além disso, eles têm umas “tapioquinhas” doidíssima, feitas como um tostex.

PPD

Já na “mais paulistana das avenidas”, mais precisamente nos fundos do Masp, no Mirante 9 de Julho, tem também o Isso é Café, mas como recentemente já escrevi uma matéria sobre a história do pessoal de lá (veja aqui), fica “apenas” a menção honrosa e o conselho de pedirem por lá o tal do “cafézinho”, que é uma medida nova de espresso que eles fazem no copo americano. Muito bacana.

Se cafeína passarinho não pode, birita muito menos. Então, na Alameda Campinas 150, onde o hotel Maksoud Plaza sugeria decadência, abriram o PanAm Club no terraço e, no bar do saguão principal, o Frank Bar. Por lá, contrataram o Spencer Jr. – que segundo a minha consultora de bebidas e amiga Júlia Rezende é o melhor bartender da cidade.

O legal do Frank é que tem aquela pegada, comum no exterior e rara em São Paulo de você sentar no balcão e ver o bartender fazer um drink. Aquela atmosfera de lobby de hotel, de filme do James Bond. E claro que os drinks são de lascar. Recomendo três: os clássicos negroni e bloody mary (reparem no cuidado e formatos do gelo de cada um desses drinks) e o La Mula, feito de El Jimador Blanco, Grand Marnier, limão galego, cumarú e house brewed extra spiced ginger beer, tudo isso servido em uma caneca de cobre. Animal.

Frank1E assim são meus rasantes. Se não sou bem-te-vi, se meu peito não é de caneta marca texto, mesmo assim posso marcar algumas coisas nessa cidade. A tristeza fica por conta de perceber que tem tanta gente que não repara nem nos pássaros na janela e nem em tantas casas bacanas que efervesceram a Pauliceia neste longo ano de 2015.

Créditos das fotos: Reprodução / Facebook

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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