Assuntos

Casa Garabed – gostinho da Armênia

por Adolfo Caboclo, 28 de maio de 2013

São Paulo é “o cinza” emoldurando semblantes negros, brancos, amarelos, vermelhos, cafuzos, mulatos e mamelucos. No meio de muitos semblantes amigos, conheci alguns que me transmitem força. Possuidores de cabelos fortes e escuros, barbas cerradas, queixos quadrados e narizes formadores de um ângulo de 70 graus, estes são os armênios que sempre passaram pela minha vida acadêmica e profissional aqui na terra da garoa.

Entre nomes “diferentians”, uma moça – com sangue armênio, por sinal – me falou do Garabed Deyrmendjian, fundador da Casa Garabed, restaurante de esfihas especiais na zona norte paulistana.  Com tantos temperos na capital mundial da gastronomia, o que faria o fogão armênio de Garabed ser tão curioso, tão especial? Bem, o fogão eu não sei, mas o forno a lenha, presente desde a inauguração da casa, em 1951, tem 25 m². Mas antes de falar dos metros quadrados do forno eu gostaria de falar dos metros percorridos para chegar até este restaurante. Para quem não conhece a zona norte paulistana, o GPS é fundamental. A casa fica próxima de grandes avenidas, como a Braz Leme e a Alfredo Pujol, porém em uma ruela estreita e cheia de ladeiras. A fachada do restaurante também é escondidinha. Comida boa e tradicional é assim, não precisa de neons para ter suas mesas ocupadas.

Ao entrar no restaurante, com algumas das mulheres da minha vida – quem vive sem elas? -, adentrei em um corredor de pisos e azulejos que poderiam tanto estar lá desde 51, como serem novíssimo, não dá pra saber, é um lugar muito limpo! No final deste corredor encontrei o tal forno de 25 m² (uma bruxa malvada poderia tranquilamente colocar lá dentro o João, a Maria e ainda deixar o Lobo Mau colocar três porquinhos simultaneamente, rs). photo (66)Quando sentei o garçom me perguntou, “vai beber o que?”, procurei o nome mais exótico que encontrei na parte de bebidas do cardápio e respondi, “airan”. Descobri que essa é uma bebida típica feita de coalhada, tradicionalmente se bebe com sal ou açúcar, mas aí eu vi que tinha uma opção de beber batida com mel. Foi essa mesma! Uma delícia, surpreendentemente bom. Uma parada “meio iogurte, meio milk-shake”. Mas as maravilhas de coalhada só estavam começando, pois também descobri o Madzunov Kiofté. Calma, não é palavrão. É o seguinte, eles fazem quibes no formato de bolinhas, recheados com carne e snobar, aí eles encobrem tudo isso com coalhada e especiarias armênias e colocam no “forno da bruxa malvada”, resultando em um quibe assado dentro da coalhada – engasguei com a minha própria saliva escrevendo isso, juro.

foto

Como estava em uma esfiharia, também conferi com as mulheres da minha vida – nessa hora elas já estavam mastigando mais do que falando, acreditem -, as especialidades da casa. Feitas na hora, absolutamente deliciosas e acima da média. Destaque positivo para a esfiha de bastrmá (uma carne seca armênia) com queijo. Confesso que depois disso a sobremesa folhada com pistache, chamada balewa, que provei acabou sendo um delicioso exagero.  Mas depois de falar de um lugar com um forno de 25m² entendi que existem exageros na vida que vem para o bem!

foto (2)

 

foto (1)

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

More Posts

Comentários