Depois das exaustas oito horas de ônibus que separam Madrid de Barcelona cheguei a esta cidade no comecinho da noite, embora estivesse pousando sobre os prédios e árvores aquela luz laranja de pôr-do-sol que os fotógrafos tanto gostam. Lá de dentro do ônibus tocava “Blowin’ in the Wind”, do Bob Dylan. O rapaz sentado próximo a mim que resolveu colocar música pro “busão” inteiro ouvir não é que tinha bom gosto? Além de Dylan, também ouvimos The Beatles e ABBA.  Acho que foi por isso que ninguém reclamou. Talvez, como eu, cantavam baixinho as músicas e apreciavam aquela linda cidade que se revelava pela janela.

Ir a uma cidade pela primeira vez é um grande barato. A gente reconhece os turistas de longe não só pelo tênis de caminhada, camisa florida e a câmera no pescoço, mas principalmente pelo jeito engraçado de ficar olhando pros lados, de baixo pra cima, de cima pra baixo, perplexo diante do novo. Eu estava assim (mas sem a camisa florida, né minha gente).

Com esse mix de empolgação e ansiedade, fui no dia seguinte conhecer um lugar que mais de uma amiga tinha sugerido, pensando que era sugestão “da boa”. E era mesmo. O Can Paixano, ou simplesmente Champanheria, é um lugar que precisa mesmo da indicação de alguém para se conhecer, ou de muita sorte para encontra-lo numa viagem de poucos dias. O bar fica próximo ao metrô Barceloneta, perto da praia, porém numa rua chamada Carrer de la Reina Cristina que é um pouquinho mais distante e sem movimento. Se por acaso estiver passando na frente do bar, você não vai nota-lo por placas indicativas, nem pelo nome na porta, mas sim pelo intenso movimento lá dentro a qualquer hora do dia. Ao entrar, vi aquilo que se espera de um bar espanhol que é conhecido como Champanheria: havia muitos jamóns pendurados no teto e infinitas garrafas de vidro expostas. E ao fundo, uma lojinha onde se pode comprar vinhos, embutidos e conservas.

Fui no horário de almoço para provar as tapas que tinham me sugerido acompanhado da atração principal da casa, a cava, um tipo de vinho espumante. O bar ainda não estava completamente cheio, e por isso consegui me alojar no cantinho do balcão para ver o menu. Lá não há cadeiras, todo mundo come e bebe em pé mesmo e, ao contrário do que possa parecer, é uma delícia. A Champanheria é barata, todos os pratos dão água na boca, e o principal, uma taça de cava custa menos de um euro.

Hombre, dá para emboracharse até não aguentar mais! A comida também não é cara, tudo sai por torno de 3 euros.  Eu bebi duas taças dessa cava deliciosa, uma porção grande de croquete de frango e um bocadillo de queijo, e a conta deu 6,40 euros. Saí anotando os pratos mais pedidos, e entre eles estavam o bocadillo de chorizo e a clássica porção de jamón York.

Se eu tivesse a sorte e o privilégio do morar em Barcelona, com certeza iria “bater cartão” neste bar. E depois ia sair por aí, após algumas boas taças de cava, cantando o meu amor por essa cidade que conquista qualquer um a primeira vista…

Fotos acima: divulgação no site do Can Paixano // Foto de capa: Flicker Skene

Fernanda Miranda

Recém-formada em jornalismo e editora do Não Só o Gato. Ama história em quadrinhos, os textos da jornalista Eliane Brum, as trilhas sonoras dos filmes do Woody Allen e azeitonas.

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