Estudando Milton Santos

por Adolfo Caboclo, 4 de novembro de 2020
Espaço, Milton Santos

Após prestigiar a exposição de Oiticica, no Masp, entender o “espaço” virou questão de sobrevivência. Então, apelei para estudar Milton Santos – talvez, o mais renomado dos geógrafos brasileiros – e seu livro A Natureza do Espaço.

Porém, estudar geografia é uma experimentação que eu não vivia desde o terceiro ano do Ensino Médio, e é uma doideira pensar que o “espaço” e o “tempo” são, também, uma questão geográfica. Pois bem: resolvi aqui escrever minhas impressões sobre os dois primeiros capítulos da obra de Santos de forma relaxada, descompromissada e flertando com a irresponsabilidade acadêmica.

A primeira ideia importante apontada por Milton Santos para entendermos a “natureza do espaço”, é o que ele chama de “técnica”. Pelo que eu entendi, “técnica” é tudo aquilo que o ser humano interfere na natureza gerando um objeto, por exemplo: a técnica de fazer a madeira virar mesa; o petróleo virar gasolina; a técnica de colocar fogo no Pantanal para transformar tudo em pasto; de aterrar um pântano para construir uma casa.

Vivemos imersos em objetos forjados por “técnicas” e esses, basicamente, geram histórias ou narrativas e, principalmente, “espaço” – a casa é um espaço para morar; o prato é um espaço para a comida; a cadeira é um espaço para se sentar.

Milton Santos parece dizer que para entendermos o “espaço”, antes temos que entender as “técnicas” e, também – muito importante – precisamos entender o “tempo”.

O “tempo” na geografia me parece menos complexo do que aquele “tempo” dos livros do Stephen Hawking. Porém, mesmo assim, também é muito doido! Por exemplo, ele possui uma ideia de “atualidade” e também a de que é “universal” e “particular” – isso pelo fato de que tudo que é “particular”, também é “universal”. Além disso, essas “particularidades” no “tempo”, também geram “possibilidades”, o que faz parte do “movimento da totalidade”. “To-ta-li-da-de”, guardem essa palavra que eu já já falarei dela.

Nessa parte do livro, Milton Santos também fala dos “eventos”, que são um pop up em um “espaço” específico mais um “tempo” específico. O autor faz um caminho, preparando todo o terreno ao falar de “técnicas” e de “tempo”, para finalmente começar a falar do “espaço” na geografia (preparar o terreno, neste caso, é uma gíria e não uma “técnica”).

Santos fala que o “espaço” – estrela principal deste estudo – é composto por quatro coisas:

1 – “Objetos geográficos” – e por isso o geógrafo fala das “técnicas”, pois com elas entendemos a lógica dos objetos. Milton Santos fala em “sistema de objetos”;

2 – “Configurações de objetos” – e aí ele fala em uma ideia de “sistemas de ação”, que é basicamente a movimentação das coisas materiais. Quando ocorre uma “intencionalidade”, uma ação interativa entre esse “sistema de objetos” e o “sistemas de ação” que falamos anteriormente, nasce o que é chamado de “espaço geográfico”;

3 – “Paisagem” – que é tudo aquilo em que não ocorreu a “intencionalidade” entre os sistemas “de ação” e “geográfico”;

4 – “Materialidade” – porque o sonho do príncipe ou a espiritualidade da princesa, para a geografia, não pode fazer parte do espaço (não estou falando de vibrações, símbolos e ideologias, Santos também fala sobre isso).

Diante desse resumo de 200 páginas que transformei em um “textão de WhatsApp” que deixaria qualquer acadêmico enojado, gostaria de retomar aquela palavra que eu tinha falado alguns parágrafos atrás: “totalidade”.

Como o próprio nome sugere, “totalidade” é tudo que existe. Tanto que para entendermos a “totalidade” temos que fragmentar as coisas. Para entendermos um carro, temos que entender de motor, borracha, leis de trânsito, metais e combustíveis; para entendermos o planeta Terra (que é uma “totalidade”), imaginem em quantas formas de conhecimentos que temos que fragmentar. Infinitas.

O mais legal é que a “totalização” é um processo, já a “totalidade” que estamos falando é algo sempre mutável e incompleto. Por exemplo, a cada instante a “totalidade chamada planeta Terra” se apresenta como algo novo, com mudanças. Milton Santos chama isso de “movimento da totalidade”.

Por qual motivo buscamos na obra de Milton Santos primeiro o entendimento de “espaço” e depois falamos de “totalidade”? Segura essa pedrada, pega a visão: o “espaço” é um agente estabilizador para existir a “totalidade”!

Acredito que muito brevemente irei me arrepender de subir um texto tão pouco estudado e tão irresponsável academicamente como este aqui. Enfim, qualquer coisa eu apago.

Irresponsável, sim. Estudiodo, nem sempre. Em movimento constante.

Agora, vou terminar de ler meu livro.