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Juventude transformada

por Estela Marcondes, 25 de fevereiro de 2014

Domingo passado conheci um grupo de jovens que faria James Dean se contorcer. Se você não entendeu a piada, vale lembrar que o ator hollywoodiano era o ícone das telinhas na representação da juventude transviada – expressão da década de 50 que se referia a jovens rebeldes que não obedeciam aos pais e muito menos às regras sociais da sua época.

Pois bem. A turma dos Jovens em Ação é beeem diferente. Isso não significa que são santos. E não acho mesmo que tivessem que ser. Sinto que a parte mais incrível de um grupo de crianças e jovens fazendo coisas para mudar o mundo é justamente o fato de eles serem “normais”, com o simples detalhe de terem percebido que deixar um rastro positivo em seu caminho pode ser tão divertido quanto apertar a campainha alheia e sair correndo. O braço quebrado de uma das pequenas integrantes me mostrava, durante a visita, nada mais do que o resultado de uma infância real.

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Como não poderia deixar de ser, por trás dessas crianças geniais há, claro, mães geniais. Foram elas que deram o pontapé inicial para juntar a molecada. A fórmula das crianças parece simples: “quanto mais diversão, melhor”. Logo, “se fazer o bem pode ser divertido para mim e para o outro, quanto mais eu fizer isso, melhor”. Nesta “pegada”, elas se reúnem para realizar alguma ação coletiva uma vez por mês. Conversando com os pequenos, descobri que dentre as ações já realizadas, fazem parte do “top diversão” uma festa que fizeram em um orfanato, como contaram os meninos, com direito a partidas incríveis de futebol e as ações em um lar de idosos.

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Ação no lar de idosos

A verdade é que chove notícia ruim no jornal diário, o que dá a (falsa) impressão constante de que o mundo é terrível mesmo e de que “tá tudo dominado”. Notícia boa aparece mais quando é quase de “super-herói”, de tão incrível. É muito bom perceber que tem muita coisa legal e simples acontecendo em todas as partes, em todas as faixas etárias, desenvolvidas por pessoas normais. A Karine, uma das mães fundadoras do grupo, conversou com o Gato. Junto com outras mães, saciou nossa curiosidade sobre o projeto. Confira aqui:

Não só o Gato: Como e quando surgiu o grupo?

Karine: O grupo surgiu com a necessidade de nós, mães, proporcionarmos aos nossos filhos valores como solidariedade, respeito, amor, de uma forma vivenciada. Reunimos sete mães, inicialmente, com nossos filhos. Isso aconteceu em maio de 2012 e desde então nos reunimos na primeira sexta-feira de todo mês propondo uma ação diferente: campanhas, arrecadações, visitas a lar de idosos, festas para crianças carentes…

NSG: Como surgiu o nome do grupo?

Karine: Foi a primeira tarefa proposta ao pequeno grupo, que após dois meses chegou ao nome Jovens em Ação. Hoje adotamos a “Equipe JA”, pois a comunidade começou a entender que essa equipe começou a trabalhar JA, sem precisar esperar que cada um deles cresça para começar a fazer a sua parte para um mundo melhor!

NSG: Quantos integrantes compõem o grupo e qual a faixa etária?

Karine: Na primeira reunião estavam presentes doze crianças. Hoje a Equipe JA conta com quarenta e cinco crianças e jovens entre quatro e dezessete anos, mas a maior parte deles tem entre treze e catorze.

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NSG: Como acontece a escolha das ações?

Karine: Até o fim do ano passado, as ações eram discutidas e propostas pelas mães, que sabendo de uma necessidade de uma entidade ou família carente, propunha uma ação à equipe. Nesse ano, a proposta é que partam deles as ideias. Para isso, cada integrante faz parte de uma área de atuação da Equipe JA. São elas: planejamento (definição dos planos e das ações); financeiro (contabilidade, arrecadação de fundos); secretaria (cadastro dos membros, comunicados internos, convocações, listas de presença nas reuniões), pesquisa (levantamento de demandas, com cadastro das instituições e suas necessidades); publicidade (criação das campanhas, criação site, blog, folhetos, banners); divulgação (divulgação da equipe JA e das campanhas, convidando para outros jovens participarem); foto (registro de todas as ações da equipe). A tarefa dos pais é apoiá-los em suas tarefas. Entretanto, a criação dessas áreas com a atuação dos jovens diretamente é bastante recente e ainda estão “estruturando” suas ideias e ações.

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NSG: O que este grupo significa para os pais e familiares das crianças?

Depoimentos das mães: “Para nós, é uma recompensa imensa ver nossos filhos vivenciado valores reais de amor e respeito ao próximo. É extremamente gratificante vê-los sentindo-se felizes e agradecidos com estas ações.”

“É uma emoção muito grande quando realizamos um trabalho e podemos observar a integração, carinho e respeito deles com as pessoas que estão sendo auxiliadas. Quando nos reunimos para o encerramento e comentários de algum trabalho e podemos verificar as conclusões de cada um, percebemos que as sementes do bem, do respeito e da solidariedade estão crescendo. Mais legal ainda quando estão em família e relatam com alegria e entusiasmo aos tios, avós e primos das experiências vividas!

Em apenas dois anos podemos observar o crescimento de todos os jovens e famílias envolvidas!”

“Ensinou aos meus, e acho que NOSSOS filhos, que a prática do bem contagia!”

“O grupo é a forma mais leve e divertida que encontrei para transmitir aos meus filhos valores nos quais eu e o pai deles acreditamos, mas que, simplesmente ditos por nós, mais parecem lições e não têm o mesmo efeito de quando são vivenciados com os amigos.”

“Sinto-os mais generosos, respeitosos e gratos. Mas acredito que ainda é uma semente, estamos apenas começando a ver florescer, logo virão os frutos e desses frutos novas e melhores sementes virão!”

(Fim da entrevista)

Tenho certeza que o JA ainda tem muito a crescer. Logo, logo, acredito que a molecada vai começar a realizar não apenas ações pontuais, mas com continuidade e com raízes mais profundas.

É, James Dean… Parece que você já está mesmo fora de moda!

DSC_0217 DSC_0403 DSC_0424 DSC_0466 Fotos: divulgação

Estela Marcondes

Estela Marcondes é Terapeuta Ocupacional, acompanhante terapêutica e encantada pelas "linguagens" do mundo, além da verbal. Algumas vezes pensa que a palavra foi inventada por alguém que estava com preguiça de usar os outros sentidos para dizer como se sentia. Adora LIBRAS, dança, trabalhos manuais, música, observar demonstrações explícitas de carinho e elefantes!

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