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Rio São Paulo

Sufocada, a cidade construída às pressas retém as lágrimas.

por Flavio Lobo, 16 de julho de 2020
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São Paulo está sobre 3 mil quilômetros de rios. Um, dois, três mil e lá vai fumaça… Dentro do seu leito são muitas pessoas concreto que nadam desesperadas. Elas estão afogadas no asfalto se rala, estafa as cala. O rio é bravio, desbravado à exaustão, rotas de fuga, investidas, sonâmbulo cidadão. Assim se toca o barco… Lento, interditado, ininterrupto, abrupto, tráfego trôpego, estridente ruído – no ar – som poluído, o que era dado cada vez mais escancarado, desencanado, rebaixada a antiga ribeira em prol de cinzento pó. Sob vias tortas, à margem metrópole, às avessas, desestrutura desigualdade distâncias, emaranhado cruzamentos emboscadas, fachadas, sinais fechados, análoga subserviência fora das frotas de choque, quer saber já chega, me leva para aula na hora do rush. Na escola dizem que fizeram pior e está tudo documentado nas profundezas das águas impuras, sob viadutos macabros superfaturados, falsas paisagens artificiais lagos, os riachos soterrados, parques florestas urbanas eleita elite, tem que ler entender de lei, aluno leigo, respeito, respira, esse ar é de graça, é o que tem para hoje é dia útil. Ontem foi domingo de sol, a foto da família, mas é inútil o patrão fecha o portão e mesmo assim as águas correm seus córregos. Leito longo e incessante, rio abundante não potável, empregos à rodo limpa o breu, recolhe lixo bueiro, olha o cheiro do ralo amanhã tem mais, nos vemos! Mas nos perdemos de vista na enchente da enxurrada. A Cantareira está seca de afeto, afeta o volume. Está seco, é do sac? Já vamos! Até, o barco está de partida o carro ronca o motor é breve, boa viagem! Com prazer, estamos trabalhando para atende-lo, somos em 3 mil para servi-lo, aqui se navega sobre o que há de melhor em asfalto e não podemos parar, adeus, amigo! Volte sempre, sempre, sempre…

"Mina de ferro" (Djanira Motta e Silva, 1979)

“Mina de ferro” (Djanira Motta e Silva, 1979)

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