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A cultura do machismo (introdução)

Como o machismo é institucionalizado e nocivo em diversas áreas culturais.

por Gabriel Caracho Ribeiro, 26 de julho de 2020
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Desde que me propus a escrever sobre cultura para o Não Só o Gato, queria abordar esse assunto por aqui. Então, acho que agora seria uma boa hora para falar de como o machismo é institucionalizado e nocivo em diversas áreas culturais. Nesta época, em que consumimos ainda mais coisas pela internet, é impossível não nos deparar com diversas postagens, discussões, comentários e exposeds dos mais diversos temas.

Acho que isso fala muito diretamente comigo e com alguns meus amigos. Como o Adolfo, aqui do NSG, que quando conversamos e analisamos comportamentos e pensamentos do nosso passado, vemos o quanto reproduzíamos coisas completamente deprimentes. Sinto que estou numa época da vida em que toda a evolução que busquei nos últimos anos – para ser uma pessoa melhor e menos nociva aos outros – vem me assombrando. Hoje vejo comentários e situações que me via fazendo e percebo o quanto eram péssimos.

Pra não fugir muito do tema proposto, já afirmo desde o começo que os machismos (principalmente estruturais) que permeiam o mundo da cultura pop, infelizmente, não incomodam o homem médio – aquele que apenas vive sem sequer questionar as instituições e o status quo. Mas quanto mais você se envolve com pessoas diferentes e cria um ambiente propício para se ter um diálogo, onde se consegue criar empatia e desconstruir as mais diversas crenças e costumes arraigados na sociedade patriarcal, mais você passa a se incomodar com isso. Ao ponto que, às vezes, revisitar coisas antigas se tornam quase uma penitência.

Cada vez que leio em redes sociais uma notícia sobre um filme em que a protagonista é mulher – ou que se tem a escolha de uma atriz para determinada adaptação; ou que é escrito por uma mulher -, me seguro para não entrar nos comentários! Tive que me habituar a passar reto dos comentários de redes, porque cara, dói… e se dói em mim, um homem cis hétero, imagina para uma mulher. E a mesma coisa se aplica aos gays, trans, pretos, e todas as outras minorias. A empatia que eu sinto por todos me faz sentir dor, todo dia, em relação a cada absurdo que vejo.

E não é somente no mundo nerd que vejo isso (no qual se encaixam melhores os exemplos que dei). Em várias outras áreas culturais, nos games, no mundo da música e rock e em todos esses ambientes em que frequento e que tenho muita convivência com pessoas.

Acredito que buscar uma desconstrução não nos coloca como melhor ou pior do que ninguém, e isso também não nos atribui nenhum tipo de mérito, ou título honorário de homem perfeito. Longe disso: acredito que seja um processo, que devemos sempre procurar reproduzir, cada vez mais, comportamentos que não sejam nocivos aos outros, e que tenhamos empatia por quem sofreu ou sofre por qualquer tipo de preconceito.

No documentário “O Silêncio dos Homens” (2019) há uma frase muito forte: “o homem reage ao desamparo com violência”. Acredito que isso se encaixa muito bem a esse tema, porque realmente acho que esses homens que reproduzem comentários machistas, racistas, homofóbicos, transfóbicos ou similares, não tiveram o amparo sentimental e social necessário para que entendam agora o quão nocivo estão sendo.

Reagimos de acordo com o que o meio nos fez. Muitos homens têm dificuldade em quebrar determinados ciclos que estamos fadados a entrar. A ideia é cravarmos o dedo em feridas e buscarmos nas próximas semanas, nos próximos textos, o quanto que muitos comportamentos de nós, homens, afetam as pessoas nos mais diferentes segmentos. Para isso, escolhi tratar de três universos em que estou mais inserido e que me chocam constantemente: o universo nerd, o universo gamer e o universo roqueiro.

A ideia é fazer uma conversa, colaborativa, para dividirmos com as pessoas como elas se sentem com certos comportamentos. Criar uma ferramenta legítima para revisar hábitos que passam, por muitas vezes, despercebidos e, em alguns casos mais extremos, podem causar as mais diferentes chateações para as pessoas atingidas.

Em suma, quero criar um ambiente de acolhimento. No qual as pessoas possam aprender algo novo que possamos auxiliar em um amadurecimento. Não se produz uma mudança real nas pessoas com confronto, mas com o verdadeiro acolhimento!

Para você que leu até aqui, fique ligado em nossas redes sociais! Nas próximas três partes desse debate sobre machismo, vamos juntos criar esse ambiente de troca e entendimento mútuo. Caminharemos juntos na tentativa de uma comunidade mais agregadora e preocupada com o bem estar coletivo!

 

"Frágil", Adolfo Caboclo (2020, óleo sobre tela, 50 x 30cm)

“Frágil”, Adolfo Caboclo (2020, óleo sobre tela, 50 x 30cm)

Gabriel Caracho Ribeiro

Gabriel Ribeiro (Gabs) é publicitário de formação, Dj, cinéfilo e nerd. Adora tatuagens, conhecer pessoas e apesar de tímido é de uma boa conversa sobre assuntos culturais, políticos, musicais e até filosóficos.

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