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Apresentando a diretora Olívia Niculitcheff, do curta Caixa Branca

Assista o curta Caixa Branca e leia o que a sua jovem e amorosa diretora tem para nos dizer

por Adolfo Caboclo, 14 de novembro de 2014
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Reunião de pauta do Não Só o Gato, o papo que toma conta de uma mesa de cafeteria no centro paulistano é sobre o nosso espresso ser acompanhado de bolo de laranja ou cenoura. Após essa doce decisão começa outra discussão: sobre a nossa vontade de expor novos trabalhos, ideias e usar o site como um espaço pra quem tem coisas legais para mostrar pro cosmos.

Quase que por transmissão de pensamento, alguns minutos depois, recebo uma mensagem. A amiga Olívia, sempre meiga, me escreve “querido, você já viu o meu curta”?

Ao chegar em casa assisti duas vezes, e me deparei com uma obra tão sensível quanto a sua criadora. Era hora do NSG ajudar a divulgar um filme e papear com uma jovem e inspirada diretora. Abaixo segue o curta Caixa Branca e um papo com a diretora Olívia Niculitcheff.

Não Só o Gato: Esse é o seu primeiro curta?

Olívia Niculitcheff: Esse é o primeiro curta metragem que dirigi, antes dele havia trabalhado como assistente de direção em um curta e um longa da escola de atores Fátima Toledo, e alguns vídeos simples na faculdade.

NSG: Como que veio a ideia do curta — primeiro surgiu o roteiro ou a necessidade de fazer o filme?

Olívia: O que me surgiu primeiro foi um insight da imagem de um homem e uma mulher sentados em um espaço todo branco, e ela dizendo que “é só imagem”. A partir disto peguei meu computador e comecei a digitar essa história, que saiu toda numa tacada só.

Fiquei em um estado eufórico de criação, de ter tirado isto de mim assim tão rápido, já logo mostrei para algumas amigas que faziam cinema junto comigo e decidimos realizá-lo. Não creio que esse surgir do roteiro se diferencie da necessidade de fazer um filme. Tenho uma necessidade muito grande de criar, isso se expressa em diversas vertentes. Já compus muitas músicas em voz e violão, quando era menor escrevia muitas poesias e textos, no teatro já criei muitas cenas e tive um grupo de pesquisa teatral onde criávamos cenas mais contemporâneas a partir de nossas vivências. Muitas vezes me pego desenhando, pintando, ou costurando algum bichinho para dar de presente a alguém.

É realmente uma necessidade minha criar, e ela se expressa nos lugares e circunstancias onde estou. Quando fiz esse roteiro tinha 19 anos e estava cursando o 3˚ semestre da faculdade de Cinema na FAAP, que é uma faculdade muito teórica nos primeiros semestres, estudávamos muitos textos sobre a questão da imagem e eu me interessava muito por eles e por esse grande mistério que é a imagem técnica. Como é que filmamos ou fotografamos alguém e a imagem desta pessoa se eterniza de forma fixa em um suporte? Tudo isso me fascinava! Junto a isso eu sempre vivi uma crise de gostar muito mais das artes do corpo, do teatro e da dança, do que do cinema. Creio que todos esses conflitos e questões dentro de mim fizeram emergir esse texto, que coloca em prática o mistério da imagem e que ao mesmo tempo traz a leveza e o desejo da dança.

NSG: O filme tem uma coisa muito forte com a realidade, com a existência, qual era a “cor da sua caixa” ao idealiza-lo?

Olívia: Acho muito engraçado como o filme se resignifica com o olhar do espectador! Ao realizar esse filme eu me apeguei muito a questão da imagem, e o imaginava sendo assistido em uma tela de computador, e essa mulher que dizia ser só imagem realmente era imagem para o espectador, pois ele não estava assistindo a um teatro por exemplo, e sim a um filme. Quando lancei o Caixa Branca, muitas pessoas assistiram e vieram conversar comigo e me parabenizar, muitas delas se identificavam com essa sensação de se sentir apenas imagem, algumas diziam que o filme calhou num momento certo, um amigo disse que “acordou se sentindo assim, uma mera imagem de si mesmo” e isso para mim foi uma sensação e uma visão completamente nova. Essa relação também com a existência e não apenas com a imagem técnica. É lindo perceber que sua criação ganha vida própria quando vai ao mundo e não mais te pertence, e ver através dos outros aquilo que estava dentro de você ao criar.

Eu sempre fui uma pessoa muito pensativa sobre essas questões existenciais e isso acaba sendo refletido no que faço. Bom, essa relação da “cor da caixa”, creio que essa ideia da caixa ser branca veio inconscientemente da oposição a um texto que estava lendo na época chamado Filosofia da Caixa Preta, de Vilém Flusser, que fala sobre nosso desconhecimento dos processos desses aparatos técnicos, a descoberta da personagem Luiza de si mesma como imagem era o contrário disto, era a total consciência. E eu, que me sinto viva e plena, acho que posso dizer que minha caixa é a mais colorida possível!
NSG: Como foi o casting? Aonde foram as gravações?

A escolha do casting começou primeiro com a personagem Luiza, pensei em quem poderia ser boa dançarina e boa atriz ao mesmo tempo. Me lembrei da Marília Coelho, que é uma pessoa que sempre admirei muito o trabalho, pois tem uma pesquisa que vai além da dança, beirando a performance, e também tem uma relação artística muito interessante com a internet, este site mostra um pouco disto: http://imaterial.net/ .

A chamei para o projeto, ela gostou e embarcou junto comigo. Foi muito prazeroso fazer todo o processo com ela! O ator que interpretou o Jorge, cheguei a fazer um casting com alguns conhecidos mas escolhi o Felipe Rocha, nos formamos juntos no teatro e ele sempre se destacou muito por ter uma excelente técnica teatral. Ambos os atores nunca haviam feito cinema, apenas teatro, e eu também tinha uma experiência maior no teatro, foi um desafio para mim dirigi-los e também criar a coreografia da segunda parte do filme, mas posso dizer que minha parte preferida do processo foram os ensaios com eles! As gravações foram nos estúdios da FAAP, este curta foi feito de forma extra-curricular mas com o apoio da FAAP que cedeu o estúdio e os equipamentos de fotografia.

NSG: As roupas do filme são realmente lindas… como que vocês chegaram nelas?

Olívia: Inicialmente no roteiro as roupas de ambos seriam da cor preta, durante o processo de pré-produção fomos revendo esses conceitos e surgiu a ideia da roupa do Jorge ter essas listras, que lembrassem uma roupa de prisioneiro, mas não de forma óbvia.

Na roupa da Luiza a ideia era que assim como ela, que se liberta durante o filme, essa roupa trouxesse a mesma sensação. Então ela tem uma saia mais solta e mais clara por baixo, que se revela na segunda parte e uma saia mais engessada e escura por cima, que é um reflexo dessa estrutura onde está presa.

NSG: Se um ET assistisse o seu filme, o que você acha que ele ia pensar sobre?

Olívia: Que pergunta excêntrica! Depende, se for um ET que já descobriu as imagens técnicas ou não. Pode ser que achasse que os humanos são imagens de uma tela de computador, ou simplesmente que temos ideias engraçadas sobre nossa própria existência, vai saber…

NSG: Quais são os seus próximos projetos?

Olívia: No momento estou escrevendo de Copacabana, Bolívia. Estou começando um projeto novo junto com André, meu namorado. Estamos fazendo um mochilão por Bolívia, Peru e depois seguiremos para norte e nordeste do Brasil, documentando a viagem em vídeos e fotos e também escrevendo. A ideia é captar manifestações culturais e também criar a partir destes novos caminhos que vamos seguindo. Também vou dar workshops de expressão corporal no teatro por onde passarmos e criar algo na área de teatro e dança. O nome do projeto é Arroboboi, logo iremos lançar o site e mais informações. Por enquanto lançamos um vídeo que fizemos no Rio de Janeiro, que foi nossa primeira cidade antes de ir para a Bolivia, por conta de um projeto que estava trabalhando, para quem quiser dar uma olhada: https://vimeo.com/110217439

Estou em um momento da minha vida de volta as artes do corpo, buscando projetos mais ligados ao teatro, a dança e a performance.

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Para quem quiser saber mais sobre o Caixa Branca, tem algumas informações sobre o processo, roteiro e storyboard no site www.caixabranca.com.br , espero que gostem!

frame15 frame13 frame12 frame10 frame9 frame7 frame6 frame5 frame4 frame3 frame2Fotos de divulgação

 

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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