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Billy Wilder no Cinema da Vela

por Fernanda Miranda, 28 de junho de 2013
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Tudo começa com o acender de uma vela. Depois que o palito de fósforo risca na caixa e encosta no pavio, os convidados do dia debatem até essa vela se apagar. Encerrada a chama, acabou a conversa.

É esse o ritual que acontece mensalmente no Cinema da Vela do CineSesc, evento inspirado no famoso Samba da Vela das noites paulistanas. Instalado no hall do cinema, lá na Rua Augusta, as mesinhas do café se tornam plateia durante um pouco mais de uma hora de chama acesa, diante de uma mesa de convidados que discutem cinema. Uma aula, um aprendizado, um prazer, ou como você preferir chamar, de graça.

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Nesta última quarta-feira, em meio ao clima da imperdível Mostra Billy Wilder que está rolando no CineSesc, o tema do Cinema da Vela deste mês foi, claro, sobre a obra do diretor estadunidense e sua influência na cinematografia contemporânea. A jornalista Flávia Guerra mediou a mesa composta pelos também jornalistas e críticos de cinema Luiz Zanin e José Geraldo Couto.

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Como espectadora e amante da arte do cinema, eu fiquei me perguntando se um debate sobre Wilder seria fácil – pela qualidade de sua obra ser inquestionável – ou um desafio aos convidados devido a grandiosidade de tudo que fez. Sendo uma estudante de jornalismo, sinto ser imprescindível assistir “A Primeira Página” com seus deliciosos diálogos e máximas sobre a profissão, como o momento em que um repórter, interpretado por Jack Lemmon, ao escrever uma reportagem para o jornal, é questionado por seu editor: “E quem caralho vai ler o segundo parágrafo?”.  “A Montanha dos Sete Abutres” é outra obra relacionada à imprensa, e que, mesmo sendo de 1951, é completamente atual. Um repórter sem motivação interpretado por Kirk Douglas vê uma grande oportunidade em sua carreira quando descobre que um homem está preso em uma mina. Acho que todos nós já vimos essa cena fictícia sendo repetidas várias vezes na imprensa brasileira e na mundial – com Sônia Abrão entrevistando o sequestrador do Caso Eloá ou mesmo no recente caso do acidente na mina San José no Chile. Na genialidade dos roteiros nos filmes de Wilder, o repórter no filme afirma: “Notícias ruins vendem melhor. Notícia boa é “não notícia””.

O jornalista Luiz Zanin, durante o debate, falava com empolgação nos olhos sobre cenas de Wilder que se tornaram memoráveis tanto dentro quanto fora da tela. Em uma delas, Zanin nos contou que, certa vez, um jornalista perguntou à Wilder: “Como é trabalhar com Marilyn Monroe, que bebe tanto, se droga tanto e ainda chega pra gravar atrasada?”, no qual ele respondeu: “Sim, ela atrasa, é verdade. Já eu tenho uma tia que nunca atrasa, mas ninguém pagaria um centavo para vê-la numa tela”. Marilyn interpretou em 2, dos 26 títulos do realizador – em “O Pecado Mora ao Lado” e “Quanto Mais Quente Melhor”.

Billy Wilder é definitivamente um dos grandes cineastas da história do cinema mundial. Debater sobre ele é refletir sobre uma obra-prima da sétima arte, “Crepúsculo dos Deuses”, com a imortal personagem Norma Desmond; é relembrar o ótimo “Se Meu Apartamento Falasse”, uma comédia dramática com ótimas críticas sobre a sociedade da época; é rever clássicos aclamados tanto pela crítica quanto pelo público. Como disse José Geraldo Couto quando a vela apagou: “Seria necessária uma vela de sete dias para discutir a obra de Wilder”. Mas ainda assim, desconfio que seria pouco.

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A Mostra Billy Wilder vai até o dia 4 de julho. Confira programação completa aqui.

Fotos por: Alf Ribeiro/CineSesc

Fernanda Miranda

Recém-formada em jornalismo e editora do Não Só o Gato. Ama história em quadrinhos, os textos da jornalista Eliane Brum, as trilhas sonoras dos filmes do Woody Allen e azeitonas.

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