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Conheça o único museu da tatuagem latinoamericano

por Adolfo Caboclo, 22 de janeiro de 2014
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O centro de São Paulo, a maior cidade latinoamericana, sempre se apresenta subexplorada aos olhos do explorador. Neste lugar, o ato de “bater pernas” se torna libertação e com ele a descoberta de feições e vestimentas sem um padrão. Vem também o desbravar de ruelas e galerias, recheadas de lugares incríveis que vão do legal ao imoral.

Foi na Rua 24 de Maio que o revoar de alguns pombos atraiu o meu olhar para o prédio Cadete Galvão, construído em 1928 — um “senhor” para a nossa jovem história. Em seu andar térreo reparei num cartaz pedindo patrocínio para a restauração de sua pichada fachada (e dá-lhe discussão sobre “o que é arte urbana?”) e, na janela do primeiro andar, uma placa anunciando o Estúdio Polaco Tattoo, lugar onde fica o Museu Tattoo Brasil. Aproveitei que o jovem porteiro discutia com o seu colega sobre Dragon Ball Z (é sério) e subi as escadas do prédio sem perguntar nada. Chegando no primeiro andar, a minha pele “virgem” de tatuagens me denunciava como “forasteiro”, então a moça da recepção indagou, “em que  posso ajudar”?

Pedi para conhecer o museu e ela me explicou que naquele dia era impossível, apenas com hora marcada, então marquei um horário para o dia seguinte, quando o tatuador Omar Del Pezo me recebeu.

Nesse momento duas coisas me chamaram a atenção. A primeira foi a receptividade do pessoal do museu, o prazer que eles sentem no ato de abrir as portas da casa para difundir a cultura da tatuagem e da expressão artística através do corpo. A segunda foi ver o carinho com que o Polaco, idealizador da parada toda, montou todo o acervo do museu.

Lucky Tattoo Lucky Tattoo

O Omar começou a minha “viagem” pelo mundo da tattoo mostrando os desenhos originais do dinamarquês Lucky Tattoo, que foi o cara que em 1959 trouxe a maquina elétrica de tatuagem para o Brasil. Como por aqui ele se encantou pela cidade de Santos, é incrível ver as referências marítimas em sua obra. Em 1975, o jornal O Globo apontou Lucky como o único tatuador profissional da América do Sul. No museu também é possível ver desenhos de outra “lenda” da tatuagem, o estadunidense Paul Rogers, tatuador mundialmente famoso.

Paul Rogers Paul Rogers

Instrumentos para fazer tatuagens também não faltam no espaço, desde máquinas usadas em penitenciárias russas, até mesmo no nosso Carandiru. Ainda é possível ver os “pauzinhos” do tebori, a técnica de tatuagem manual japonesa (impossível não pensar naqueles corpos com as costas totalmente tatuadas e com suas peles valendo fortunas depois de mortos no mercado negro japonês, rs).

A parte que eu achei mais interessante foi a das fotos e réplicas de cabeças Maori. Indígenas oriundos principalmente da Nova Zelândia, eles tinham o rosto todo tatuado e o hábito de, ao morrerem, serem decepados e suas cabeças adornadas para serem expostas de uma forma mística. Com a chegada do homem branco, não demorou muito para eles começarem a se matar para trocarem cabeças por armas de fogo. Posteriormente, o próprio europeu passou a organizar caçadas para um tráfico pesado de cabeças que seriam destinadas aos colecionadores.

foto 3

Uma outra curiosidade é que a técnica com “pauzinhos” que eles utilizavam é responsável pelo nome tattoo, uma onomatopéia.

Dei uma olhada nos inúmeros livros de tatuagem e fotografias do acervo da casa e, ao terminar o meu tour, ainda tive a honra de esbarrar com o próprio Polaco — o museu expõe seus inúmeros troféus como tatuador e um painel comemorativo pelos seus 30 anos de serviços comemorados no ano passado. Foi bacana, o agradeci bastante pela iniciativa de proporcionar um espaço legal como esse para a cidade. Realmente, foi uma tarde onde eu tive uma verdadeira aula sobre história e arte.

foto 4 Grande Polaco!

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Fotos por Adolfo Martins

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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