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Infância e Arte no CCBB Brasília

por Luiz Pecora, 2 de julho de 2014
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Para um paulistano nascido e criado, Brasília pode ser uma cidade incompreensível. Nunca fará sentido para nós como a área central de uma cidade pode ser tão espaçada, nem nos acostumaremos com as enormes distâncias entre um lugar e outro (não que São Paulo não tenha enormes distâncias, mas por ter maior densidade urbana é possível fazer mais coisas numa única caminhada). Isso não significa que a cidade não tenha suas joias: assim como a capital paulista é um infinito de possibilidades por trás de um véu de aparente caos, Brasília esconde sua efervescência cultural entre as brechas do planejamento. É preciso ficar de olho no que está rolando e, como em qualquer metrópole, contar com a ajuda dos locais para te indicarem onde acontece o quê. Tentei aproveitar um pouco da cultura brasiliense nesse espírito durante semanas que passei por ali, e um dos lugares que não poderia deixar de ir é o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de lá. Antes mesmo de ir a Brasília, muita gente me deu essa dica: próximo à Ponte JK, o CCBB Brasília abriga uma programação bem variada e é um dos centros culturais mais visitados do Brasil e do mundo. Fui então passar um fim de tarde e ver o que acontece por lá. ccbb De cara, a visita já valeu a pena pelo espaço. O prédio principal é assinado (obviamente) por Oscar Niemeyer, e, além do CCBB e outras atividades do Banco do Brasil, conta com café, livraria e um jardim, tudo com uma vista super gostosa da ponte JK. Mas fui mesmo é pra ver a exposição. A mostra da vez é “A Experiência da Arte – Arte para crianças”, que fica em cartaz até 11 de agosto. Com a proposta de mostrar que a arte pode ser plenamente apreciada ainda na infância, o curador Evandro Salles convidou diversos artistas para apresentar seus trabalhos de uma forma inovadora e interativa. Devem ter acertado, porque não imaginaria que a exposição era focada no público infantil se não fosse a concentração maior de crianças, e gente de todas as idades aproveitava o lugar. Eu poderia falar de cada uma das obras, mas vou tentar focar nas que mais me chamaram a atenção, se é que me sinto no direito de fazer esse ranking. Um dos pontos altos da minha visita foi a obra “malhas da liberdade” de Cildo Meireles. São várias peças encaixáveis que juntas formam uma rede que nunca está acabada, sempre tem um espaço livre para continuar montando. O interessante é que o visitante tem que montar as peças para perceber essa liberdade da malha e entender o sentido do título (sem falar que, para quem brincou de Lego na infância, nada mais libertador que sentar e brincar de montar). Também de Cildo Meireles, a obra sonora “RIO OIR” é bem instigante: o artista gravou o som do curso de um rio, reproduzindo o resultado numa sala. Não sou fã desse tipo de trabalho, mas confesso que adorei me jogar nos pufes ao som de um rio correndo, fechando os olhos e me imaginando à beira da água fresca: no fim das contas, me surpreendi sendo levado a outro lugar por aquele barulhinho bom.

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Saindo do subsolo da Galeria 1, já andando para o jardim, dou de cara com os painéis do Vik Muniz expostos no Pavilhão 2. Foi a primeira oportunidade que tive de ver ao vivo as obras, e senti que o artista merece o destaque internacional que conquistou. As obras aproveitam materiais inusitados para compor imagens impressionantes, bem no seu estilo – fui particularmente distraído por um mapa-múndi montado com lixo eletrônico. O espaço também mostra um pouco do processo criativo do Vik Muniz, e oferece uma oficina para que os visitantes testem sua habilidade para fazer o que ele faz. Nem preciso dizer que a molecada ficou bem à vontade. Eu também.

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A exposição contou também com obras dos artistas Paula Trope, Ernesto Neto, Waltercio Caldas, Wlademir Dias-Pino e Eduardo Coimbra, todas convidando para uma experiência lúdica com a arte. A série “Falsa Maçã” faz um jogo de espelhos com mesas e maçãs, resultando diferentes perspectivas de acordo com o ponto de vista do público; em “Riogiboia” percorremos uma cobra-labirinto de pano que nos leva da floresta amazônica à metrópole paulista; na “Câmara Escura” é possível operar o sistema de captura de imagens inventado na Renascença. Me admirei de ver as crianças interagindo com naturalidade com as obras, e claro que aproveitei para exercer um pouco dessa desenvoltura da infância. Nada como lembrar que ninguém vira adulto para sempre!

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Luiz Pecora

Luiz Henrique é bacharel em Direito e desenhista amador. Conhecer pessoas, viajar e ler são suas coisas favoritas no mundo — melhor se estiverem juntas. Gosta de arte, música, biologia, geografia, história, religião, política, filosofia, astronomia, e não suporta azeitonas. Vai mostrando como é e vai sendo como pode, jogando seu corpo no mundo.

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