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Yayoi Kusama: Obsessão Infinita

por Marina Ribeiro, 18 de outubro de 2013

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A arte tem esse maravilhoso poder de fazer a gente se questionar e querer sair da zona de conforto, não é? Pelo menos em mim, os efeitos podem ser devastadores! Passei o dia inteiro pensando sobre como passamos os dias inteiros tentando nos encaixar em normas e métodos. Vamos sufocando a nossa criatividade, as nossas inspirações, até que “PUFF”, a vida vira uma planilha de computador! Agora, no fim do dia e mais serena, concluí que esses questionamentos foram resultado de um mergulho no mundo de delírios da artista japonesa Yayoi Kusama.

Ontem, quando coloquei os pés na mostra retrospectiva “Obsessão Infinita”, no belíssimo prédio do CCBB carioca, ainda tinha a cabeça em polka dots – uma das mais famosas fixações da artista. Mas ali estava uma primeira sala cheia de quadros com um quê meio violento e obscuro que, por mais que já apresentassem certo caráter repetitivo em suas formas, em muito diferiam das obras que eu tinha como referência. Eram pinturas do início dos anos 50 (Kusama nasceu em 1929, em Matsumoto).

Já instigada de corpo e alma, parti para a sala seguinte, que de tão clara – nas paredes e nas obras – contrastava com o ambiente anterior. Era a série Redes Infinitas, onde a repetição já aparecia claramente. Em seguida: colagens que me remeteram – tão instantâneo quanto uma sopa enlatada – à Arte Pop. Não à toa, afinal em 57 Kusama se mudou para Nova York, onde entrou em contato com caras como Andy Warhol e Claes Oldenburg.

Mas falemos dos falos, que de repente surgiram de sapatos, cadeiras e roupas. Que dominavam a cena de Aggregation: One Thousand Boats Show – fiquei um tempo olhando aquele barco de falos prateados rodeado de fotos dele mesmo e tudo aquilo me pareceu agressivo. Kusama uma vez disse “Fico aterrorizada só ao pensar que algo longo e feio como um falo me penetre, e é por esse motivo que construo tantos falos”. Só vim descobrir essa sua declaração depois, mas ali, enquanto refletia sobre a tal agressividade, percebi uma série de fotos em vídeo no canto da parede que – dividindo o espaço com esse tal medo da artista – mostravam uma gueixa tão delicada e feminina caminhando pela cidade. Contraste define.

A partir daí, a mostra ficou deveras sensorial. Adentrei a Infinity Mirror Room – Phalli’s Field (or Floor Show) e a deslumbrante  Infinity Mirrored Room – Filled with the Brilliance of Life. Entre uma e outra, assisti a um longo trecho de Kusama’s Self Obliteration (1967). Numa sala escura, com trilha sonora psicodélica e imagens ainda mais, vi corpos que pareciam explorar suas possibilidades ao máximo. Enérgico! Desemboquei num grande salão branco onde suas pinturas mais recentes explodiam de tão coloridas, e rostos e olhos se repetiam (a obsessão da vez, talvez).

Yayoi Kusama é uma artista plural, provocadora e que explora diversas plataformas – até a moda faz parte de seu currículo, enfrentando suas questões psicológicas. A retrospectiva é itinerante e, organizada pelo Instituto Tomie Ohtake junto ao Yayoi Kusama Studio, passará por outras cidades brasileiras. Com curadoria de Philip Larratt-Smith e Frances Morris, merece a visita e a entrega a tudo que pode proporcionar.

Fotos por Marina Ribeiro
*Infelizmente, as fotos eram permitidas em poucos ambientes da exposição.

Marina Ribeiro

Marina Ribeiro é jornalista e atriz em formação. Ama o teatro e acredita na comunicação em suas mais diversas manifestações – a moda é uma das favoritas. Soteropolitana, morou em São Paulo durante 4 anos e agora respira ares cariocas. No Instagram, ela é @marinaribei.

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