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Urbe pedalada: um passeio de bike pelo Rio

por Marina Ribeiro, 19 de agosto de 2013
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Recentemente, num desses finais de semana ociosos no Rio de Janeiro acompanhada do meu namorado, tive uma experiência muito significativa com a cidade. Sim, eu já era do tipo brasileiro apaixonado, que chama o Rio de cidade maravilhosa e fica totalmente idiota quando vê o Cristo de longe, absoluto e iluminado, mas dessa vez foi diferente e ainda mais especial.

Redescobri, neste final de semana em questão, um relativamente antigo projeto de disponibilização de bicicletas por toda a cidade, que – quando conheci – me deixou absolutamente encantada. Decidi com meu namorado que no domingo iríamos juntos pedalar até o Pão de Açúcar e depois até Ipanema ou onde o destino nos levasse, já que há tempos não nos prestávamos ao papel de ciclista.

No domingo em questão, acordamos às 11 da manhã (o que, para nós, é muito cedo) e partimos. Estava fazendo sol e a impressão que eu tinha era de que todos os cariocas estavam na rua, tentando aproveitar o dia lindo e a beleza natural da cidade. Moramos no Flamengo e caminhamos até a Praia do Flamengo em direção a um dos postos de aluguel de bikes, pertinho, do lado de casa.

Cabe aqui um esclarecimento: esse projeto, chamado Bike Rio, é uma parceria entre a prefeitura do Rio de Janeiro, o banco Itaú e o sistema de bicicletas SAMBA. Para usufruir, basta se cadastrar no site e, quando em um ponto de bike, ligar para a Central de Atendimento ou utilizar o aplicativo do smartphone para desbloquear a bicicleta que escolher. O pagamento pode ser feito por 24hrs (5 reais) ou um mês (10 reais) e a condição é que a bicicleta seja devolvida após uma hora de utilização e se respeite um tempo de quinze minutos antes de retirar uma bike novamente. O bacana é que o projeto já se espalhou por diversas cidades brasileiras, como Sampa, Recife e Porto Alegre.

Isso dito, lá fomos nós. Chegando na Praia do Flamengo, não encontramos nenhuma bicicleta disponível na estação. Isso porque já havíamos passado pela estação do Largo do Machado e, também, nada de bikes. Encontramos, sim, uma pequena fila de pessoas esperando o retorno de alguém. Decidimos ir de ônibus até o Pão de Açúcar. No caminho, vimos várias estações quase ou totalmente vazias. Subimos o bondinho, apreciamos a vista, namoramos a cidade de cima, toda aquela turistagem gostosa… Que cidade linda!

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Mas, prosseguindo, quando descemos fomos correndo à estação que fica logo na frente do Morro da Urca. Se tivéssemos chegado dois minutos depois, não teríamos conseguido finalmente alugar nossas duas bicicletas laranjas. Isso, para nós dois, foi uma prova concreta de quanto a cidade necessita desse tipo de locomoção, de quanto as pessoas desejam e consomem sim, desde que haja oferta.

Da Urca, pedalamos até Copacabana. Fizemos todo o trajeto praticamente sem sair da ciclovia e, no percurso, encontramos tanto outros ciclistas da bike laranja quanto pessoas com suas bicicletas particulares, pedalando nas ruas. Sem falar nos postos de aluguel, sempre cheios. Se, no inicio do projeto, as pessoas se mostravam bastante intrigadas diante das bikes laranjas – sempre perguntando como funciona o esquema ou que diabos de bicicletas eram aquelas –, hoje em dia sua presença já é comum.

Se já tínhamos certeza que havia um público na cidade que consumia e conhecia esse tipo de serviço, agora percebíamos que quem ainda não sabia nada sobre também estava curioso e com vontade de experimentar. Deixamos nossas bikes em Copa e fomos almoçar. Na volta, por sorte conseguimos garantir novamente nossa locomoção logo antes de uma fila se formar na estação. E iniciamos nosso trajeto de volta: Copacabana – Praia do Flamengo e depois a pé até nossa casinha.

A experiência de fazer um caminho de bicicleta que normalmente se faz de ônibus é estimulante para os sentidos. É possível observar novas peculiaridades dos bairros, sentir os cheiros, interagir com outras pessoas. Neste dia, o que prendeu meu olhar foi a mudança da iluminação, de final de dia ensolarado para início de noite azul-alaranjada. Enquanto contornávamos Botafogo, víamos a luz ir embora ao fundo do Cristo.

Cheguei em casa nesse dia com uma ideia na cabeça: a de que isso sim é o que se pode chamar de urbanidade civilizada. Deve-se fomentar esse tipo de iniciativa em todas as cidades deste país.  Mais do que disponibilizar aluguel de bike nas estações do metrô, espalhar pontos por outros caminhos, visíveis e convidativos. Nada melhor que um estímulo visual, que despertar a curiosidade, vontade e civilidade alheia. Recomendo essa experiência. Você vai chegar em casa conhecendo melhor sua cidade, seu corpo e as possibilidades de locomoção que vão muito além de um carro entediante com ar condicionado.

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Marina Ribeiro

Marina Ribeiro é jornalista e atriz em formação. Ama o teatro e acredita na comunicação em suas mais diversas manifestações – a moda é uma das favoritas. Soteropolitana, morou em São Paulo durante 4 anos e agora respira ares cariocas. No Instagram, ela é @marinaribei.

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