Assuntos

Uma noite de contos na torre

por fesigiliao, 27 de novembro de 2013
, ,

Foto 1-1No coração de Hackney existe um lugar que faz o tempo parar. Um pedaço da história do século XVI, que resistiu ao tempo, mantendo sua estrutura e beleza até os dias de hoje. A St Augustine’s Tower é o prédio mais antigo de Hackney, e é lá que acontece o evento mais mágico de Londres.

Quando me convidaram para uma noite de storytelling eu não sabia muito o que esperar. Minha amiga quis manter o efeito surpresa e não revelou muito, me dando apenas duas instruções bem claras e simples: chegue cedo e vista algo quente. A primeira surpresa foi chegar a uma torre de igreja, sem a igreja. Alta e imponente, que mesmo presente na rua mais movimentada da área, poderia passar despercebida por olhares menos atentos.

A segunda surpresa veio logo na entrada. O evento começava no pequeno e aconchegante térreo da torre. Um músico fazia uma serenata, cantando e tocando violão do alto de um platô, enquanto os convidados se acomodavam. Algumas pessoas se serviam de mulled wine — uma bebida deliciosa, tipicamente natalina que consiste em vinho quente, especiarias e frutas — e de bolos caseiros.

Foto 2-1

 Anunciado o início da primeira performance, subimos pela longa e estreita escada espiral que dava acesso ao topo da torre. A parede de pedra e a laboriosa escada se transformaram em uma espécie de túnel do tempo, nos conduzindo para uma outra era e já indicando o clima do que estava por vir.

Foto 3-1

Do alto da torre era possível avistar a interminável Londres e só a experiência de estar no topo de uma torre do século XVI, contemplando ao mesmo tempo a Londres de 2013, já teria sido incrível. Em um dos cantos da torre um homem tocava violino, o primeiro contador de estória, que dentro de poucos minutos faria todos se curvarem com entusiasmo em sua direção.

Foto 4-1

 Nos sentamos no chão em silêncio aguardando a estória começar. Ele repousou o violino e se apresentou:

My stories for you will tell of a land

that is far in miles, yet close in kind.

This fiddle will accompany, with the help of my hands

Whilist my mouth begs humbly that your ears be inclined,

For though I wasn’t blessed with a throught for these tales

I think I can conjure them in your mind’s eye

With rhyme and play, as you sip on your ales

You shall from this world now take wing and fly,

As I tell you of who and what lives in my land

Of why I’m called Baby… although I’m a man!

But firstly, let me play you a tune

It won’t be for long: the first story is soon!”**

E durante um tempo indeterminado, Willow Baby nos conduziu a uma viagem, contando uma estória de magia e feitiços, na companhia de seu violino. Era possível ouvir a cidade vivaz lá embaixo, mas o som lá de fora se tornou secundário e por alguns instantes sumiu, enquanto Willow compartilhava seu conto.

Em seguida, fomos para o terceiro andar da torre. A ideia do evento era fazer uma promenade, um passeio, como se chama no círculo teatral. Por isso, cada estória foi contada em um diferente andar da torre. Chegando ao novo espaço, nos acomodamos em almofadas no chão. A luz de velas e as paredes de pedra tornavam o lugar perfeito para o cenário de um conto dos irmãos Grimm.

E logo a segunda contadora de estórias começou. Interpretação, texto e entonação impecáveis. Ela, cujo nome não consigo lembrar, me encantou da primeira a última palavra. Contou duas estórias, que com humor e uma certa dose de suspense, agradou tanto ao público adulto quanto as duas meninas que foram acompanhadas do pai.

Foto 5

Após um breve intervalo, para nos aquecermos com mais mulled wine, fomos para outro andar da torre assistir a terceira performance. E mantendo o nível de magia, Nick Hunt adicionou uma pitada de tensão à noite, contando uma estória de suspense, que já avisado por ele desde o início, não teria um final feliz. No entanto, assim como os melhores filmes, me manteve imóvel e com um olhar atento e curioso do início ao fim.

Foto 8

Despretensioso e perfeito em cada detalhe, Tales in the Tower é quase um respiro para fora da Matrix. Um evento simples, que valoriza a história e aproxima a comunidade. Mais um pedacinho mágico dessa cidade, que não deixa de me surpreender.

Foto 7

Foto 6

** “Minha estória para você vai contar sobre uma terra / Que é distante em milhas, mas perto em tipo / Este violino irá acompanhar, com a ajuda das minhas mãos / Enquanto minha boca humildemente implora que seus ouvidos se inclinem / Porque não fui abençoado com uma garganta para esses contos / Eu acho que consigo conjurá-los no olho da sua mente / Com rima e diversão, enquanto você sorve a sua ale* (*tipo de cerveja) Você deverá desse mundo agora tomar asas e voar / Enquanto eu te digo sobre quem e o que vive na minha terra / Por que eu sou chamado de Baby… apesar de eu ser um homem! / Mas primeiramente, deixe tocar para você uma melodia / Não será por muito tempo: a primeira estória começa logo!”

Fotos por Fernanda Sigilião / Divulgação Tales in the Tower

Fernanda Sigilião

Fernanda Sigilião é publicitária e atualmente mora em Londres. Fã de Beatles a Coltrane, além de música, também ama viajar. Se interessa por arte em geral, sociologia e filmes antigos, já viu ‘A Noviça Rebelde’ mais vezes do que é socialmente aceito.

More Posts

Comentários