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Tinha uma pedra (Grande) no meio do caminho

por Estela Marcondes, 29 de abril de 2014
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A primeira vez que estive na Pedra Grande, localizada na Serra de Itapetininga, em Atibaia (interior de São Paulo), foi em outubro do ano passado, quando meu namorado e eu, tendo ouvido inúmeras boas referências sobre a beleza e a tranquilidade da paisagem local, fomos dar uma folga da super agitada pauliceia aos nossos corações, que assumidamente caipiras (de Pindamonhangaba e Jaú, respectivamente), começam a dar uma pifada sempre que passam muitas semanas seguidas sem uma boa dose da paz do interior.

Fiquei encantada com o local. Optamos pela trilha mais longa dentre as três existentes, mas nos perdemos no caminho e acabamos descobrindo que no final das contas caminhamos por todas elas, já que nos perdemos em certa altura do campeonato, nas pouco sinalizadas bifurcações. O resultado? Levamos o dobro do tempo estimado, o que de forma alguma foi um problema para nós que, de fato, estávamos mesmo totalmente distraídos. A vista parecia mais linda a cada metro e o silêncio ecoava mais sedutor conforme subíamos. A trilha é tão íngreme que em muitos momentos tínhamos que literalmente escalar as pedras, segurando em alguma raiz ou nos dando as mãos. Detalhes à parte, não posso deixar de ressaltar que cada um dos 1.418 metros de altitude valeu muito a pena.

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Depois do passeio, mortos de fome, fomos comer na cidade. Por incrível que pareça, foi na hora de pagar a conta que nossos olhos brilharam. No caixa, nos deparamos com um grande troféu, no qual havia uma gravura da montanha e os dizeres: Corrida da Pedra Grande 2013. Fiquei pensando se seria mesmo possível correr ali, num lugar onde até caminhar não é tarefa fácil. Mas, apaixonada que sou por corrida, naquele mesmo momento tive certeza de que um dia ainda correria por aquelas montanhas.

Foi esta a história que me levou a madrugar no último domingo para correr aquela que foi, sem sombra de dúvidas, a mais lenta (já que em muitos momentos é necessário escalar) e mais linda corrida da minha vida. Foi assim que, em tempos de opiniões divergentes em relação à Copa do Mundo no Brasil, eu – que, para além das experiências polêmicas, não resisto a uma experiência curiosa – acompanhei uma Copa pra lá de diferente: a Copa Paulista de Corridas de Montanha. Para você que nem sabia da existência deste evento, te conto que esta já é a sua quarta etapa do ano. Como o nome sugere, as etapas acontecem sempre em alguma cidade montanhosa e os percursos não são nada simples. Por sinal, este é que é o diferencial: quanto mais “pauleira” for o caminho, melhor!

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Com duas opções de trajeto (um mais curto, com pouco mais de 6 km, e outro mais longo, com 10 km) e um número limitado de participantes devido aos cuidados necessários para organizar um evento neste local, trezentos atletas largaram às 8h da matina da pista de pouso de paraquedismo de Atibaia rumo ao pico da Pedra Grande. Durante a prova, diferentemente do que acontece na grande maioria das corridas de rua, não foram distribuídos copinhos de água! Como havia sido avisado anteriormente pela organização do evento, cada um teria que levar sua própria garrafa para abastecer nos postos de hidratação durante a corrida, buscando evitar que o local estonteantemente puro e cheio de vida ficasse infestado de plástico pet. Adorei!

Após aproximadamente duas horas, a maioria dos participantes já havia cruzado a linha de chegada – tempo médio que é o dobro do que se observa geralmente nas corridas de rua de 10 km. A vista é tão linda e o percurso tão divertido que eu gostaria que a prova tivesse alguns quilômetros a mais. Com o corpo um tanto cansado e com a cabeça profundamente relaxada, me dei conta de que o maior troféu desta Copa é fazer os atletas enxergarem que quando, como já poetizava Drummond, no meio do caminho tiver uma pedra, nem sempre o melhor caminho é desviar. Basta tomar uma respiração profunda e enfrentar a pedra com toda a energia, que o que era obstáculo pode tornar-se ar puro e uma paisagem inesquecível… afinal, de lá de cima, nenhuma outra pedra ou problema parece tão grande assim!

copa 2 IMG_1683 IMG_1644 IMG_1628copa 3copa 4Fotos por Tião Moreira e Gustavo Furuta

Estela Marcondes

Estela Marcondes é Terapeuta Ocupacional, acompanhante terapêutica e encantada pelas "linguagens" do mundo, além da verbal. Algumas vezes pensa que a palavra foi inventada por alguém que estava com preguiça de usar os outros sentidos para dizer como se sentia. Adora LIBRAS, dança, trabalhos manuais, música, observar demonstrações explícitas de carinho e elefantes!

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