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Luara Lobo e a nova cara da psicologia do esporte

por Adolfo Caboclo, 6 de agosto de 2014
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Quando os nervos são mais implacáveis que o potencial de um atleta, como superá-los? Desde a Odisséia de Homero ou da história dos Doze Trabalhos de Hércules, se sugere que um grande objetivo só é atingido através de muita superação e de um foco inabalável. Em uma narrativa contemporânea, o grande trend é falar sobre as razões do grande desempenho da seleção alemã no mundial da FIFA. Refletindo sobre esse cenário, onde me vi farto de teorias “facebookianas” e de comentários de jornalistas de rabo preso, procurei por uma pessoa que soubesse o que falar sobre o assunto. Questionei então a psicóloga esportiva Luara Lobo para me responder a pergunta a que todos se fizeram: o que o Brasil fez de errado na “Copa das Copas”?

Luara, especialista em desempenho de atletas e fundadora da Llobo Psicologia Esportiva, é atleta desde criança. Sobre o desempenho da seleção brasileira de futebol, me respondeu: “Achei, de verdade, que faltou um trabalho psicológico a longo prazo com os jogadores. Principalmente ali no dia a dia, acompanhando eles em treinamentos físicos, táticos e tudo mais. A Alemanha é um exemplo em todos os sentidos – eles estavam com uma equipe multidisciplinar, que vem fazendo uma preparação há uns 10 anos com os atletas, tinham vários psicólogos. O Brasil não teve um trabalho psicológico construído ao longo de sua preparação”.

Engraçado, porque em todos os comentários que escutei anteriormente sobre o assunto, nunca tinha ouvido essa história do psicólogo no dia a dia. Mas faz todo sentido. Em todas as áreas de conhecimento em que me profissionalizei (comunicação, basicamente), a troca e o “circular” entre os públicos de interesse é vital. Imagino que com a psicologia não seja diferente.

Meu papo com Luara foi em um final de tarde. De certa forma, sua juventude maquiava suas certificações e me pareceu muito coerente perguntar para uma jovem psicóloga a origem da sua vocação. Ela explicou, com sua voz calma: “é importante dizer que antes da psicologia chegar na minha vida, o esporte já era muito importante para mim. Desde pequena eu sempre pratiquei muita atividade física. Joguei tênis, nadei, fiz capoeira, fiz várias modalidades e aí eu me especializei na natação. Aos 9 anos eu me federei em natação e abri mão dos outros esportes. Participei de Campeonato Paulista, dos 10 aos 12 anos, e do Brasileiro aos 15 anos. Por sentir essa necessidade da parte psicológica na natação eu já entrei na faculdade de Psicologia tentando achar algo dentro da psicologia do esporte. Só que não encontrei, não tinha nada sobre o assunto na faculdade”.

10568015_796926420328359_381882501_n Luara no lugar mais alto do pódium, no Campeonato Paulista de Inverno de 2006

Foi muito interessante ver a narrativa da psicóloga sobre os lugares onde procurou informações sobre o assunto. Luara me falou sobre congressos esportivos, onde começou a descobrir o “caminho das pedras”. Fato é que nas faculdades de Psicologia, em geral, existe um déficit quando o assunto é desempenho esportivo. “Na faculdade de Educação Física é onde você encontra mais material. Em pesquisas que eu ia fazer em bibliotecas da USP, por exemplo, eu não achava nada na parte de Psicologia. Eu tinha que ir na parte de Educação Física, então essa já é uma falha que tem na educação mesmo, na grade curricular do curso de Psicologia. Eu ainda encontrei um meio de me aprofundar sobre o assunto, mas acredito que muitas pessoas que entraram na faculdade pra entender sobre a área, acabaram tomando outro rumo por causa dessa dificuldade de encontrar informações”, comentou a psicóloga.

“Isso vem desde lá de trás. Na história da psicologia do esporte, as primeiras pesquisas nos Estados Unidos, de onde vem os primeiros estudos, foram da área de Educação Física. Mas esses estudos param, por exemplo, quando um jogador sente mais nervosismo no momento do jogo: não aprofundam mais porque quem tem essas ferramentas é a Psicologia mesmo”.

Hoje Luara vive entre trabalhos de pesquisa com atletas de reabilitação no Hospital das Clínicas; cuidando de esportistas que procuram melhores resultados através da Llobo e com uma equipe de natação com jovens da categoria de base da Universidade Santa Cecília. “Eu continuo na natação, e é ótimo porque é uma área que eu tenho bastante conhecimento pessoal”.

10581715_797418753612459_1613524269_n Luara com a categoria de base da Santa Cecília

Vendo as fotos da Luara trabalhando, fiquei admirado com o número de suas imagens no ambiente de treino do próprio atleta. E isso ela me confidenciou ser uma de suas principais lutas: mostrar que o lugar do psicólogo do esporte não é somente no divã. Muito pelo contrário, grande parte do tempo desse profissional é na beira da piscina, do campo ou da quadra, conversando com o técnico.

“Quem tem essa experiência, de trabalhar com o profissional de psicologia, faz ele se tornar imprescindível. É o caso  da equipe alemã e é o caso, aqui no Brasil, do pessoal do judô”. No caso da Alemanha na Copa do Mundo, ela conta que a equipe teve interação da psicologia com trabalhos como o de yoga e respiração. Ela explicou que através de conversas, observações, dinâmicas e da produção de dados sobre o atleta, o psicólogo dialoga com todos os profissionais que participam diretamente do desempenho do esportista, gerando uma otimização mútua. “O que gera um diferencial é o psicólogo junto com o técnico, com o atleta, com o fisioterapeuta, até mesmo com a yoga. Essa interação é muito poderosa”.

Outro exemplo muito legal que a Luara me deu é o de quando um técnico repete milhões de vezes para um atleta fazer um determinado movimento e ele não o faz. Daí o psicólogo entra tentando descobrir o motivo desse problema, que muitas vezes pode ser a forma com que o técnico está comunicando isso para o atleta. A bem da verdade é que depois desse papo com a psicóloga Luara eu fiquei me questionando não apenas o desempenho de alguns atletas que são comprometidos pelo lado psicológico, mas também fiquei imaginando o número de atletas que simplesmente abandonaram carreiras brilhantes (o primeiro nome que me vem é o do Imperador Adriano) porque não tiveram um acompanhamento psicológico desde cedo. Porque algum empresário se julgou mais apto do que um profissional da psicologia para amparar o atleta e assim inviabilizou a maturidade de um grande potencial. Realmente, meus momentos com a psicóloga me proporcionaram uma reflexão extrema, além de uma boa vontade de largar o sedentarismo. Será!?

foto-10A psicóloga Luara Lobo durante a entrevista

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A nadadora Luara Lobo

Fotos: Acervo Pessoal de Luara Lobo

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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