Assuntos

Luiz Felipe Cordeiro, o produtor associado do documentário “Eu Maior”

por Estela Marcondes, 4 de agosto de 2014
, ,

“A arte de fazer a vida significativa e bela, envolve a descoberta de conexões entre o que parece não ter conexões, unindo pessoas e lugares, desejos e memórias, através de detalhes cujas implicações passaram despercebidas.” –Theodore Zeldin

Você já brincou de “Lembra o quê?” Em outras palavras, é aquele passatempo de criança – típico de mãe tentando distrair os filhos em uma fila de espera – em que cada um vai conectando palavras e sentidos.

Calma, eu explico! É mais ou menos assim: a primeira pessoa começa sugerindo um termo qualquer, geralmente um substantivo: “gato”, por exemplo. Então, uma segunda prossegue dizendo, sem pestanejar, a primeira palavra proferida, seguida da que vem à sua cabeça, da seguinte forma: “’gato’ lembra ‘site’”. E uma terceira pessoa (ou a primeira mesmo, caso a brincadeira seja feita em dupla) continua: “’site’ lembra ‘internet’”, “`internet` lembra `celular`” e assim por diante. O passatempo geralmente acaba por três motivos: quando as conexões retornam à palavra inicial, quando elas ficam tão malucas que todos começam a dar risada ou quando a curiosidade é tanta de saber o porquê de aquela tal coisa lembrar aquela outra coisa que é necessário interromper e perguntar: “Mas de onde foi que você tirou isso?”.

Pois é. Gosto de pensar que o Divino, pleno de compaixão pela secura que algumas vezes assola os corações dos seres vivos, faz o Universo brincar de “lembra o quê?” com a vida. E foi assim que esta matéria nasceu; muito antes da data em que foi escrita, quando o Universo me sugeriu a palavra “busca” e em seguida, dia a dia, mês a mês, foi completando a sequência que desemboca neste artigo que você lê agora. Há alguns anos, comecei a procurar lugares em São Paulo, em que eu pudesse aprender a meditar e me conectar com outros saberes. Esta busca, para mim, fazia todo o sentido com o meu conceito de “felicidade” e com minhas formas para acessá-la.

Provavelmente você já ouviu algo sobre o documentário que ficou famoso no ano passado chamado “Eu Maior”, certo? O filme foi feito através de financiamento colaborativo e nele são expostas diversas reflexões e muitos depoimentos sobre autoconhecimento e a busca da felicidade. Nessa mesma “vibe” que o documentário apresenta, no meu próprio caminho de busca, iniciei uma formação de dois anos na Unipaz. Então, no final de semana passada, estava lá, pronta para mais uma aula do meu curso, que neste mês seria sobre Tradições Sagradas Ancestrais, ministrada pelo facilitador indígena Kaká Werá. O curso já havia começado quando entrou na nossa sala um rapaz, chamado Luiz Felipe, explicando que ficara sabendo da aula que aconteceria ali e que gostaria muito de poder assistir. Discretamente, sem fazer a mínima pompa, apresentou-se ao Kaká: “Participei da produção do ‘Eu Maior’”. Eu, que estava sentada em uma posição estratégica, ouvi isso. Pronto! Conexões feitas: no lugar que mais me representa, atualmente, a minha busca por autoconhecimento e felicidade, encontro o produtor do documentário incrível que apresenta justamente percursos desta busca. CLARO que virou entrevista para o Não Só o Gato.

Luiz Felipe Cordeiro tem 37 anos, mora em São Paulo e nos contou um pouco de sua trajetória.

Não Só o Gato: Por favor, conte um pouquinho sobre você (sua formação, trajetória e mais algo que queira compartilhar com nossos leitores).

Luiz Felipe: Minha formação superior foi em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, e Atuação para TV e Cinema em curso de extensão. Sempre tive maior interesse na área de audiovisual por isso desde a época de estágio durante a Faculdade trabalhei em Produtoras, podendo adquirir experiências em pré-produção, produção e pós-produção. Tenho muitos cursos extracurriculares na área de Cinema. Sempre me reconheci como uma pessoa muito curiosa, principalmente com questões sobre a existência humana, portanto, outro grande interesse meu é a busca pelo autoconhecimento, que acredito estar alinhado com minhas buscas como ator. Não existe um bom ator se ele não distingue quem ele realmente é do que é O Personagem.

NSG: Como foi sua participação no “Eu Maior”? Qual seu “papel” na elaboração?

LF: Pra mim foi uma honra poder acompanhar essa jornada com a equipe pois aliou dois grandes interesses meus, o Cinema e o tema do autoconhecimento. Pude presenciar as entrevistas na íntegra, que duravam em média duas horas de material riquíssimo, sem contar a questão de sentir a presença e a verdade de cada um. Exerci muitas funções no filme porque a equipe era muito pequena, de apenas quatro pessoas, mas nos créditos finais apareço como Produtor Associado.

NSG: Abriram-se novas portas em sua trajetória, a partir do filme?

LF: Muitas portas se abriram para mim, mas todas elas no mundo abstrato, no campo das ideias e reflexões. Pequenos grandes aprendizados que a experiência traz. Pensando em profissão/carreira cinematográfica até hoje não fui convidado por nenhum Spielberg para participar de um próximo filme de grande orçamento (risos). Convites para explicações sobre captação de recursos através de crowdfunding ou reflexões sobre a temática do longa apenas aconteceram para os diretores.

NSG: O que foi mais difícil e o que foi mais bacana neste período?

LF: Sempre existem desafios que nos trazem evolução, mas nada que a gente possa chamar de difícil. Normalmente, pelo menos pra mim, em qualquer trabalho o mais difícil são as relações humanas independente do produto final. O mais bacana foi tudo, os lugares que viajamos para as entrevistas, poder conhecer pessoalmente as personalidades dos entrevistados, as conversas e reflexões entre a equipe após as entrevistas.

NSG: Quais são seus próximos passos? Você já tem planos para novos projetos?

LF: Gosto muito de trabalhar com imagem e som, acho que são elementos muito poderosos para serem usados de forma consciente. Nos meus estudos aprendi muita coisa sobre neurolinguística, semiótica, comunicação sutil. Sou apaixonado pela arte e acredito que através dela existe a cura. Meu próximo projeto será nessas áreas conciliadas comunicação, arte, cura. Estou muito feliz em trilhar meu caminho “dharma” depois de muitos anos em conflito entre as questões de trabalho x realização.

É… Deus sabe MESMO brincar de “Lembra o quê”!


Trailer do “Eu Maior”

Foto da capa: Arquivo Pessoal

 

Estela Marcondes

Estela Marcondes é Terapeuta Ocupacional, acompanhante terapêutica e encantada pelas "linguagens" do mundo, além da verbal. Algumas vezes pensa que a palavra foi inventada por alguém que estava com preguiça de usar os outros sentidos para dizer como se sentia. Adora LIBRAS, dança, trabalhos manuais, música, observar demonstrações explícitas de carinho e elefantes!

More Posts

Comentários