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A personalidade de Daniela Bravin

por Adolfo Caboclo, 18 de junho de 2014

Era uma noite agradável de quarta-feira, no dia seguinte seria um 12 de junho diferente — devido ao pontapé inicial da Copa —, então me senti legitimado para antecipar a comemoração do Dia dos Namorados ao lado da minha morena. Fomos no restaurante Bravin, que fica na rua Mato Grosso, vulgo “Consoleta”. Alguns dias atrás, nesse mesmo lugar, eu tinha entrevistado a dona desse estabelecimento, Daniela, que me contou sobre a sua trajetória, sobre os tempos em que trabalhou na Espanha e seu posterior brilhantismo e reconhecimento como sommelier, até chegar no restaurante que eu apresentava, naquele instante, para a minha namorada.

Ir para o Bravin naquela noite foi, de fato, uma escolha preciosa. Quem prestigia a casa, pode presenciar dois ambientes impressionantemente acolhedores: o wine bar e o salão. Por lá existe uma atmosfera que chamariam de “retrô” ou “afrancesada”, mas que prefiro definir como “paulistana”. Paulistana de um lugar que fica entre o Copan e a Paulista.

FOTO: TADEU BRUNELLI/ESTADÃO FOTO: TADEU BRUNELLI/ESTADÃO

Apesar da casa lotada, não passamos muito tempo esperando nossa mesa. Na entrevista que fiz dias atrás, a Dani me disse fazer questão de reconhecer um cliente que chega por lá pela segunda vez. Afirmou que o seu restaurante é um lugar “onde o dono que te atende, o dono que abre a porta. Coisas que se perderam com o tempo, que tinham nos restaurantes da minha infância e que hoje sumiram”. Inclusive, enquanto ela me falava isso, um cara entrou no salão e nos interrompeu de forma gentil, pedindo para Daniela preparar para o dia seguinte um jantar especial para a família e amigos. Também pediu para ela sugerir uma harmonização ideal para o evento. Nessa hora, presenciei um relacionamento entre a Bravin e o cliente de forma fluída e então entendi os tais “valores” que ela queria transmitir. Fato é que, no meu jantar, eu me senti em casa. Dani é “das minhas”, entende que nada é pior do que chegar em um restaurante e ser “mais um”.

A verdade é que a minha experiência com o Bravin, em especial naquele “quase” Dia dos Namorados, acabou sendo consequência da tentativa de conhecer a Daniela alguns dias antes, de falar sobre ela aqui no Não Só o Gato. Trata-se de uma figura marcante da pauliceia: delgada, com o cabelo todo cortado com a máquina e modelado com formas arredondadas, braços tatuados. Daniela exala força. Não só isso, ela tem uma história muito bacana: “Comecei a trabalhar na área de alimento e bebidas com 18 anos. Depois disso fui para a Espanha e comecei a trabalhar lá, em uma creperia francesa. Quando voltei, passei por vários lugares como bar, caixa e tudo mais. Passei por muitas casas conceitualmente legais e depois fui pro nordeste. Vi que estava de saco cheio daqui. Morei em Salvador, morei em Natal, e depois disso voltei para São Paulo e abri um bar chamado Stardust, que durou até 2002”. Aos risos, ela também falou sobre a sua então falta de maturidade para gerir um negócio próprio no início dos anos 2000. “É difícil ter 25 anos e ter um bar. Você bebe o bar inteiro, dá bebida pros amigos, então é meio complicado. Você não tem maturidade. Eu tinha um ‘bar baladinha’ e queria curtir a minha baladinha”.

Foi só depois dessa fase que a Dani se aventurou no “reinado de Baco”. Entrou na ABS (Associação Brasileira de Sommeliers) e se formou em 2003. Passou por alguns dos restaurantes “vejinháveis” da cidade, sempre com o foco na harmonização. “Hoje eu procuro estudar sobre tudo na hora de harmonizar. Não precisa ser necessariamente vinho, às vezes ele pode pedir uísque, pode pedir uma cerveja”, comentou Dani.

Pois bem, nesse meu jantar de quarta-feira tudo foi harmonizado, e não falo apenas de uma relação comida X bebida. Por exemplo, pelo menos para mim, a curadoria musical de um lugar é fundamental para a minha curtição, e por lá escutei Novos Baianos, Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, Luiz Gonzaga e um bom jazz. Nada mal.

Assumo que tive um pouco de dificuldade pra escolher meu prato, sou vegetariano e o lugar tem um menu tão marcante e forte quando o salão e a dona. Muitos miúdos, carnes assadas, mas também não faltou personalidade no risoto de cogumelos que pedi. Inclusive, como era de se esperar, por lá me indicaram um vinho que saçaricou divinamente na minha boca. Sei que nessa história “gabaritei” as metas: entrevistei a Daniela Bravin e impressionei minha morena no Dia dos Namorados. Um brinde!

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Foto de capa por Tadeu Brunelli/ Estadão

Demais fotos por Adolfo Martins

 

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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